A palavra Iyami significa, de forma direta e poderosa, “Minha Mãe”. Trata-se de uma expressão carregada de reverência, ancestralidade e mistério. Por isso, não há qualquer impropriedade em se dizer, por exemplo, Iyami Oxum, ou simplesmente Iyami, como uma forma de se referir com respeito e amor a essa força feminina ancestral.
O que causa estranhamento, ou até erro, é a expressão “Iyami tal”, como se fosse possível reduzir essa força múltipla a uma única identidade. Existem muitas Iyami, cada uma com sua vibração e propósito. E, diante da necessidade de nomear uma delas, o gesto deve ser de total reverência: as mulheres colocam as mãos sobre o ventre — seu centro de criação e conexão com o sagrado feminino — e os homens, sobre seus órgãos reprodutores, reconhecendo também sua origem uterina.
Ao longo do tempo, infelizmente, criou-se um imaginário negativo sobre as Iyami, que passaram a ser temidas, vistas como forças ligadas a maldições e destruição. Nada mais distante da verdade. Como poderia eu amaldiçoar a mim mesma? Como poderia uma mulher amaldiçoar a sua própria Iyami biológica ou espiritual?
A verdade é que todas as mulheres, por possuírem útero, já carregam em si a essência das Iyami. Já os homens — conhecidos como oxôs — também podem conter essa energia em sua composição espiritual, embora em menor grau. São raros os homens que possuem a força plena das Iyami em seu caminho, mas quando isso acontece, há odus específicos que indicam que eles devem cultuar, apaziguar e respeitar essa presença. Afinal, todos, sem exceção, vieram ao mundo através de um útero.
Existem certos Odus que exigem pactos com as Iyami, já que, ao contrário dos orixás, não existe iniciação formal para elas. É um mistério que não se revela por meio da iniciação tradicional, mas sim por meio da escuta, da sensibilidade e do comprometimento com os caminhos espirituais e éticos que elas indicam.
As Iyami se vestem com três cores sagradas: preto (dúdú), branco (fúnfún) e vermelho (pupá). Cada cor representa um aspecto de seu poder, e nenhuma delas atua isoladamente. Para compreender qual delas vibra conosco, é necessário consultar o obi, ferramenta divinatória que pode revelar com qual cor — e, portanto, com qual energia de Iyami — estamos conectados. Cada uma completa e fortalece as outras.
É urgente desconstruir o preconceito construído em torno dessas potências femininas. A imagem negativa das Iyami foi criada por medo, ignorância e controle — instrumentos históricos para afastar as pessoas do verdadeiro poder feminino e espiritual. É preciso lembrar que as Iyami caminham com Exu e Egungun, que se manifestam nas encruzilhadas, nos mistérios, no invisível.
Em toda casa de Candomblé, as vísceras das oferendas devem ser destinadas às Iyami. Jogá-las fora, especialmente no lixo, é um desrespeito grave e pode acarretar desequilíbrios espirituais profundos, principalmente para as mulheres daquela casa.
Reverenciar as Iyami é reconhecer a força primordial que gera a vida, que sustenta o equilíbrio e que guarda os maiores segredos da existência.
Conhecimento é poder. Mojubá às nossas Iyami. Mojubá ao ventre que nos criou.
Texto de autoria da Iyalorixá Iyá Lúcia Omidewá (Ilê Axé Opô Omidewá – João Pessoa/PB).
Plágio é crime, defendido pela Lei n° 9.610/98.