Uma reunião ocorrida na manhã da última quarta-feira, 08, na Secretaria de Meio Ambiente (SEMAM) da Prefeitura de João Pessoa, reiniciou uma discussão que vem se arrastando há alguns anos: a criação de um espaço público para realização de algumas ritualísticas das religiões de matriz africana na capital paraibana. O secretário-adjunto, Sargento Dênis, recebeu sugestões de algumas lideranças, a exemplo de Mãe Lúcia Omidewá, Mãe Mércia de Oxum, Pai Beto Juremeiro, Mãe Lúcia Omidewín e Mãe Acorodã, que defenderam uma série de ações relacionadas ao tema. Segundo a ialorixá Omidewá, um projeto de utilização de parte do Parque Cuiá vem sendo discutido com a prefeitura há quase dez anos, mas pouca coisa avançou.
A ideia seria transformar o antigo prédio da Casa Grande da fazenda, que foi desapropriada pela PMJP, num centro de capacitação para preservação ambiental. Uma outra proposta surgida durante a reunião foi de que seja implantada na área da fazenda, uma espécie de horto para o cultivos de plantas ligadas aos cultos afro-brasileiros, bem como um jardim botânico para preservação de árvores e ervas de axé, especialmente a jurema sagrada.
“Na área da fazenda, entre os bairros do Geisel e do Valentina, a expansão imobiliária ameaça o Rio Cuiá, com construções irregulares e a falta de redes para o esgoto sanitário doméstico. No Planalto da Esperança, perto do nosso ilê, a mata tem sido constantemente atacada, recebendo resto de entulho das construções que ocorrem nas proximidades, sem nenhum controle do poder público”, alerta a candomblecista.
Os religiosos também discutiram a necessidade de que seja desenvolvido um trabalho permanente junto às casas de axé para que não utilizem matérias não degradáveis na entrega das oferendas (ebós), especialmente nos rios, mar e matas. Uma das recomendações mais importantes é a de que não sejam acendidas velas dentro das reservas para evitar incêndios acidentais. Segundo as mães de santo, as velas podem ser acesas em casa, dentro dos ilês, e o restante das oferendas despachadas, evitando sempre uso de plásticos e de outros materiais de difícil degradação natural.
Durvalina Lima, assessora do mandato da deputada estadual Estela Bezerra (PSB), também presente ao encontro com Dênis, alertou para outra área ambiental que merece cuidados, dentro da comunidade quilombola de Paratibe. “Existe ali um manancial com o encontro de dois rios que está sendo poluído e ameaçado pela expansão imobiliária naquela área”, alertou.
Já Pai Beto relatou a problemática ambiental no município do Conde, especialmente na área de Tambaba, onde o poder público pretende autorizar a implantação de industrias mineradoras cimenteiras. “Além da questão turística, é uma área importante do ponto de vista do sagrado nas nossas religiões”, destacou.
Uma das deliberações da reunião foi a confecção de uma cartilha orientadora, que será confeccionada pela SEMAM em papel reciclado, para ser distribuída em larga escala nos terreiros que funcionam em João Pessoa. “Um grupo de trabalho foi designado para elaborar um projeto de constituição do santuário ecológico no Parque Cuiá. Em julho, durante a semana do Meio Ambiente, deverá ocorrer um seminário para discutir essas iniciativas com a comunidade umbandista, juremeira e candomblecista local. Também queremos promover discussões públicas na Assembleia Legislativa e na Câmara de vereadores da capital”, diz a ekedje Tânia Maria da Silva, uma das organizadoras da reunião.
Uma nova reunião ficou agendada para o próximo dia 17, a partir das 14 horas, no Ilê Axé Xangô Agodô, que fica na Rua Elói Inácio Albuquerque, 16, Mangabeira II.
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