dez
17

Onilé a Primeira Divindade da Terra

Os antigos povos que deram origem aos atuais iorubás ou nagôs, de cujas tradições se moldaram o candomblé no Brasil, cultuavam uma entidade da Terra, a Terra-Mãe, que recebeu muitas denominações em diferentes aldeias e cidades que formam o complexo cultural iorubá e seus entornos principais, entre os quais os jejes mahis e daomeanos e os tapas ou nupes e os ibos. Esta antiga divindade é até hoje cultuada e recebe o nome de Onilé, a Dona da Terra, a Senhora do planeta em que vivemos. Outros nomes da Terra-Mãe são: Aiê, Ilé, Ialé, também Ije, Ale, Ala, Aná, Ogerê, e mesmo Buku e Buruku. Entre os jejes do Maranhão e da Bahia é chamada Aisã. Creio que grande parte dos seguidores do candomblé nunca ouviu falar ou teve apenas vagas referências sobre Onilé, mas em certos candomblés de nação Keto, que preservam ou reconstituem tradições que em grande parte se perderam na diáspora iorubana, pratica-se um culto discreto, mas significativo a Terra-Mãe, para a qual se canta, ou no início do Sirê ou no final da chamada roda de Sòngo, a cantiga que diz “Mojubá, orisá/ ibá, orisá/ ibá Onilé”, que pode ser traduzido como “Eu saúdo o orisá/ Saúdo Onilé/ Salve a Senhora da Terra”.

Onilé é uma divindade feminina relacionada aos aspectos essenciais da natureza, e originalmente exercia seu patronato sobre tudo que se relaciona à apropriação da natureza pelo homem, o que inclui a agricultura, a caça e a pesca e a própria fertilidade. Com as transformações da sociedade iorubá numa sociedade patriarcal ou patrilinear, que implicou a constituição de linhagens e clãs familiares fundados e chefiados por antepassados masculinos, as mulheres perderam o antigo poder que tiveram numa primeira etapa (um mito relata que, numa disputa entre Oyá e Ogum, os homens teriam arrebatado o poder que era antes de domínio das mulheres). Os antepassados divinizados tomaram o lugar das divindades primordiais e houve uma redivisão de trabalho entre os orisás. As divindades femininas antigas tiveram então seu culto reorganizado em torno de entidades femininas genéricas, as Yiá Mi Osorongá, consideradas bruxas maléficas pelo fato de representarem sempre um perigo para os poderios masculinos, e vários orisás tiveram dividido entre si as atribuições de zelar pela Terra, agora dividida em diferentes governos: o subsolo ficou para Omulu-Obaluaye e para Ogum, o solo para orisá-Oko e Ogum, a vegetação e a caça para os Odes e Osonyin e assim por diante. A fertilidade das mulheres foi o atributo que restou às divindades femininas, já que é a mulher que pari que reproduz e dá continuidade à vida. Constituir-se-iam elas então em orisás dos rios, representando a própria água, que fertiliza a terra e permite a vida: são as Yiagbás Yemonjá, Òsun, Obá, Oyá, Yewá e outras e também Nanã, que como antiga divindade da terra, representa a lama do fundo do rio, simbolizando a fertilização da terra pela água.

Onilé teve seu culto preservado na África, mas perdendo muitas das antigas atribuições. Hoje ela representa nossa ligação elemental com o planeta em que vivemos, nossa origem primal. É a base de sustentação da vida, é o nosso mundo material. Embora sua importância seja crucial do ponto de vista da concepção religiosa de universo, os devotos a ela poucos recorrem, pois seu culto não trata de aspectos particulares do mundo e da vida cotidiana, preferindo cada um dirigir-se aos orisás que cuidam desses aspectos específicos. No Brasil, como aconteceu com outros orisás, seu culto quase desapareceu. Certamente um fator que contribuiu para o esquecimento de Onilé no Brasil é o fato de que este orisá não se manifesta através do transe ritual, não incorpora, não dança. Outros orisás importantes na África e que também não se manifestam no corpo de iniciados foram igualmente menos considerado neste País que, por influência do Kardecismo, atribui um valor muito especial ao transe. Foi o que aconteceu com Orunmilá, Oduwduwa, Orisá-Oko, Ajalá, além da Yiá Mi Osorongá. É interessante lembrar que o culto de Osonyin sofreu no Brasil grande mudança, passando o orisá das folhas a se manifestar no transe, o que o livrou certamente do esquecimento. O culto da árvore Iroko também se preservou entre nós, ainda que raramente, quando ganhou filhos e se manifestou em transe, sorte que não teve Apaoká. Na Nigéria mantém-se viva a idéia de que Onilé é à base de toda a vida, tanto que, quando se faz um juramento, jura-se por Onilé. Nessas ocasiões, é ainda costume pôr na boca alguns grãos de terra, às vezes dissolvida na água que se bebe para selar a jura, para lembrar que tudo começa com Onilé, a Terra-Mãe, tanto na vida como na morte. Um mito que já tive o prazer de contar em outras ocasiões ensina qual são a atribuição principal de Onilé, como ela está associada ao chão que pisamos e sobre o qual vivemos nós e todos os seres vivos que formam o nosso habitat, nosso mundo material.

 

Assim conta o mito: Onilé era a filha mais recatada e discreta de Olodumare. Vivia trancada em casa do pai e quase ninguém a via. Quase nem se sabia de sua existência. Quando os orisás seus irmãos se reuniam no palácio do grande pai para as grandes audiências em que Olodumare comunicava suas decisões, Onilé fazia um buraco no chão e se escondia, pois sabia que as reuniões sempre terminavam em festa, com muita música e dança ao ritmo dos atabaques. Onilé não se sentia bem no meio dos outros. Um dia o grande deus mandou os seus arautos avisarem: haveria uma grande reunião no palácio e os orisás deviam comparecer ricamente vestidos, pois ele iria distribuir entre os filhos as riquezas do mundo e depois haveria muita comida, música e dança. Por todos os lugares os mensageiros gritaram esta ordem e todos se prepararam com esmero para o grande acontecimento. Quando chegou por fim o grande dia, cada orisá dirigiu-se ao palácio na maior ostentação, cada um mais belamente vestido que o outro, pois este era o desejo de Olodumare. Yemonjá chegou vestida com a espuma do mar, os braços ornados de pulseiras de algas marinhas, a cabeça cingida por um diadema de corais e pérolas, o pescoço emoldurado por uma cascata de madrepérola. Osòósi escolheu uma túnica de ramos macios, enfeitada de peles e plumas dos mais exóticos animais. Osonyin vestiu-se com um manto de folhas perfumadas. Ogum preferiu uma couraça de aço brilhante, enfeitada com tenras folhas de palmeira. Òsun escolheu cobrir-se de ouro, trazendo nos cabelos as águas verdes dos rios. As roupas de Osumarè mostravam todas as cores, trazendo nas mãos os pingos frescos da chuva. Oyá escolheu para vestir-se um sibilante vento e adornou os cabelos com raios que colheu da tempestade. Sòngo não fez por menos e cobriu-se com o trovão. Óòsàálá trazia o corpo envolto em fibras alvíssimas de algodão e a testa ostentando uma nobre pena vermelha de papagaio. E assim por diante. Não houve quem não usasse toda a criatividade para apresentar-se ao grande pai com a roupa mais bonita. Nunca se vira antes tanta ostentação, tanta beleza, tanto luxo.

Cada orisá que chegava ao palácio de Olodumare provocava um clamor de admiração, que se ouvia por todas as terras existentes. Os orisás encantaram o mundo com suas vestes. Menos Onilé. Onilé não se preocupou em vestir-se bem. Onilé não se interessou por nada. Onilé não se mostrou para ninguém. Onilé recolheu-se a uma funda cova que cavou no chão. Quando todos os orisás haviam chegado, Olodumare mandou que fossem acomodados confortavelmente, sentados em esteiras dispostas ao redor do trono. Ele disse então à assembléia que todos eram bem-vindos. Que todos os filhos haviam cumprido seu desejo e que estava tão bonito que ele não saberia escolher entre eles qual seria o mais vistoso e belo. Tinha todas as riquezas do mundo para dar a eles, mas nem sabia como começar a distribuição. Então disse Olodumare que os próprios filhos, ao escolherem o que achavam o melhor da natureza, para com aquela riqueza se apresentar perante o pai, eles mesmos já tinham feito a divisão do mundo. Então Yemonjá ficava com o mar, Òsun com o ouro e os rios. A Osòósi com as matas e todos os seus bichos, reservando as folhas para Osonyin. Deu a Oyá o raio e a Sòngo o trovão. Fez Óòsàálá dono de tudo que é branco e puro, de tudo que é o princípio, deu-lhe a criação. Destinou a Osumarè o arco-íris e a chuva. A Ogum deu o ferro e tudo o que se faz com ele, inclusive a guerra.

E assim por diante. Deu a cada orisá um pedaço do mundo, uma parte da natureza, um governo particular. Dividiu de acordo com o gosto de cada um. E disse que a partir de então cada um seria o dono e governador daquela parte da natureza. Assim, sempre que um humano tivesse alguma necessidade relacionada com uma daquelas partes da natureza, deveria pagar uma prenda ao orisá que a possuísse. Pagaria em oferendas de comida, bebida ou outra coisa que fosse da predileção do orisá. Os orisás, que tudo ouviram em silêncio, começaram a gritar e a dançar de alegria, fazendo um grande alarido na corte. Olodumare pediu silêncio, ainda não havia terminado. Disse que faltava ainda a mais importante das atribuições. Que era preciso dar a um dos filhos o governo da Terra, o mundo no qual os humanos viviam e onde produziam as comidas, bebidas e tudo o mais que deveriam ofertar aos orisás. Disse que dava a Terra a quem se vestia da própria Terra. Quem seria? Perguntavam-se todos? “Onilé”, respondeu Olodumare. “Onilé?” todos se espantaram. Como, se ela nem sequer viera à grande reunião? Nenhum dos presentes a vira até então. Nenhum sequer notara sua ausência. “Pois Onilé está entre nós”, disse Olodumare e mandou que todos olhassem no fundo da cova, onde se abrigava vestida de terra, a discreta e recatada filha. Ali estava Onilé, em sua roupa de terra. Onilé, a que também foi chamada de Ilê, a casa, o planeta. Olodumare disse que cada um que habitava a Terra pagasse tributo a Onilé, pois ela era a mãe de todos, o abrigo, a casa. A humanidade não sobreviveria sem Onilé. Afinal, onde ficava cada uma das riquezas que Olodumare partilhara com filhos orisás? “Tudo está na Terra”, disse Olodumare. “O mar e os rios, o ferro e o ouro, Os animais e as plantas, tudo”, continuou. “Até mesmo o ar e o vento, a chuva e o arco-íris, tudo existe porque a Terra existe, assim como as coisas criadas para controlar os homens e os outros seres vivos que habitam o planeta, como a vida, a saúde, a doença e mesmo a morte”. Pois então, que cada um pagasse tributo a Onilé, foi à sentença final de Olodumare. Onilé, orisá da Terra, receberia mais presentes que os outros, pois deveria ter oferendas dos vivos e dos mortos, pois na Terra também repousam os corpos dos que já não vivem. Onilé, também chamada Aiê, a Terra, deveria ser propiciada sempre, para que o mundo dos humanos nunca fosse destruído. Todos os presentes aplaudiram as palavras de Olodumare. Todos os orisás aclamaram Onilé. Todos os humanos propiciaram a mãe Terra.

E então Olodumare retirou-se do mundo para sempre e deixou o governo de tudo por conta de seus filhos orisás. E assim este mito, de modo didático e com muita beleza, situa o papel de Onilé no panteão dos deuses iorubás. Como é estrutural nos mitos, o tempo da narrativa não é histórico, dando a impressão que os cultos dos diferentes orisás foram instituídos a um só tempo, num só ato do supremo deus. A narrativa enfatiza, contudo, a concepção básica da religião dos orisás, isto é, que cada orisá é um aspecto da natureza, uma dimensão particular do mundo em que vivemos. Eles são o próprio mundo, com suas forças, elementos, energias e propriedades, mundo que tem por base Onilé, a Terra, o planeta que habitamos o nosso lar no universo.

dez
17

Ikú é um Orixá

 

Ikú, a Morte, é um Orixá, designado por Olodumare para uma função derradeira. Existem e são raríssimas, pessoas de Ikú que, evidentemente, não são iniciadas, cumprem normalmente seu destino e tem funções específicas num Ilê Axé.

Oyekú Mejí é primeiro caminho à terra, quando o Odú Oyekú Mejí chegou à Terra, a morte ainda não existia. Orixá Ikú (morte) nasce nesse caminho para cumprir sua função na Terra, Opirá. (FIM).

Oyekú Meji representa essencialmente a Morte, a profunda escuridão, representa também o lado esquerdo, o este e o princípio feminino.

Ikú vem buscar a pessoa no dia derradeiro e esteja nas condições que estiver, para levá-la de volta ao interior da terra, ao ventre de Nanã.

Ikú cumpre rigorosamente sua função e somente aqueles que conhecem os omo-odús de Oyekú Mejí, poderá conversar com a morte, e por um breve tempo. Somente através do Imolê Exú e num determinado Odú é e que se faz oferendas a Ikú, estabelecendo pactos e acordos com Ikú para adiar e afastar a morte, aliado aos bons ebós.

Pai Agenor dizia que: a troca pela vida, através de oferendas, é o ponto central do culto aos Orixás, a vida nada mais é que a mais valiosa de todas as trocas e também a mais cara.

As trocas não são eternas, chegará o dia que Ikú terá que cumprir sua função e ainda exigirá oferendas, para garantir que só levará apenas um. Há casos famosos de zeladores que depois de mortos, Ikú voltou algumas vezes para cobrar sua oferenda e não encontrando levava seus filhos, acabando muitas vezes, com a casa de candomblé.

Com Ikú não se brinca, quando Ikú chega o nosso Orixá não está mais conosco, sabe que já cumpriu sua função e somente Orí acompanha a pessoa até o fim.

dez
15

ENTREVISTA DE MÃE LÚCIA PARA RÁDIO TABAJARA

No dia 8 de Dezembro em nossa cidade comemoramos o dia de Yemanja, logo cedo nossa Iyá Lúcia de Omidewá compartilhou mais de sua sabedoria com os ouvintes da rádio Tabajara AM abordando de forma que o grande público entenda mais sobre as comemorações do dia de Yemanjá, a entrevista foi feita pelos alunos da UFPB do curso de comunicação social com habilitação em rádio/tv. O programa chama-se Zona Livre e aborda temas variados, sendo como um laboratório ao vivo para a turma de Rádio e Tv deste curso, o grupo abordou a festa de Yemanja para que esta parte da nossa religião seja mais conhecida e assim podemos contribuir com uma parcela a mais de informação para a população, em breve teremos um programa inteiro só com nossa Iyá Lúcia falando sobre a religião afro-descendente de uma forma mais abrangente para a felicidade de todos, esperamos ansiosos por esse dia.

A noite, a festa que acontece no Busto de Tamandaré foi linda e teve a participação de terreiros da cidade, juntos em comunhão celebrando o dia da Rainha do Mar, nossa mãe prestigiou a festa com seu brilho e beleza, os festejos entraram pela madrugada e mamãe Yemanjá está contente com tamanha união entre os filhos de vários segmentos.

Assim que estiver disponível postaremos o link do áudio desta entrevista.

Por: Andréa Gisele

dez
04

Seminário Em Defesa da Ancestralidade Africana

SEGUE ABAIXO O VÍDEO DO SEMINÁRIO EM DEFESA DA ANCESTRALIDADE AFRICANA ATRAVÉS DA FRENTE PARLAMENTAR DA IGUALDADE RACIAL, PARA QUEM INTERESSAR ASSISTIR, MOSTRANDO O VÍDEO QUE MOSTRA UM TRECHO DO DOCUMENTÁRIO  “ATE OXALÁ VAI A GUERRA” DE CARLOS PRONZATO E STEFANO BARBI CINTI COM PRODUÇÃO DE MARCOS REZENDE. NESTE DIA FOI EXPOSTO A INTOLERADA RELIGIOSA QUE VÁRIOS TERREIROS ESTÃO SOFRENDO PELO BRASIL, É MAIS UMA AÇÃO QUE NOS FORTALECE E AJUDA NOSSO POVO A SE FIRMAR COMO NEGROS E CANDOMBLECISTAS, UNINDO FORÇAS E ONDE AINDA TEMOS MUITO O QUE CAMINHAR/LUTAR.

CLIQUE NO LINK EM VERMELHO ABAIXO E ASSISTA:

Seminário Em Defesa da Ancestralidade Africana

Por: Andréa Gisele

nov
29

Escute as Recomendações do seu Sacerdote!

Ewó – Os Interditos na Religião dos Òrìsàs

“Minha Ìyálòrìsà me disse que eu não podia comer Cajá, eu comi e não me fez mal algum, esse negócio de Ewó é conversa fiada”!

 

Talvez pela falta de informação ou conhecimento acerca da cultura dos Òrìsàs, muitas pessoas pensam dessa forma, ou seja, se comeu e não sentiu nada, não tem problema nenhum, pois não é Ewó, será que é isso mesmo?

 

Antes de tudo é preciso entender o que são os Ewó. Na religião dos Òrìsàs, acreditamos que ao longo da vida, todos os seres e Divindades passaram por momentos de alegria, felicidades, dificuldades, decepções, etc. Nessa ótica, aquilo que motivou ou desencadeou, por exemplo, um processo de decepção, tornou-se um interdito para aquele ser/Divindade.

 

Há alguns meses foi publicado no site “Casa de Oxumaré”publicamos (de onde retiramos esta matéria),  a razão de Ògún usar màrìwò. À época foi publicado que quando ele entrou mata adentro, envergonhado por ter matado o cachorro guardião do mercado da riqueza, suas roupas foram completamente rasgadas pela ação de uma determinada planta espinhosa, fazendo com que ele, envergonhado por estar nu, se vestisse completamente com màrìwò (Ogun Kolaso, Mariwo Aso Ogun-o Mariwo). A partir desse dia, o màrìwò tornou-se sagrado para Ògún, no entanto, a planta que rasgou suas roupas, passou a ser o seu Ewó. Caso um filho de Ògún venha a usar essa planta (por exemplo, um banho), provavelmente naquele momento ele não sentirá nada, mas ele despertará em Ògún, a lembrança daquele momento de vergonha, o que lhe pode ser prejudicial futuramente.

 

Esse é somente um exemplo, para ilustrar, mas existem centenas de histórias que justificam todos os Ewós do Candomblé. Talvez a mais conhecida, seja a de Òsàlá, que deixou de criar o mundo, pois bebeu o Emú (vinho de palma), tornando essa bebida um terrível Ewó desse grande Òrìsà. Há, também, a história que justifica o Ewó do mesmo Òsàlá com o Epó Pupá, quando Èsù de forma maliciosa sujou sua impecável roupa branca com o dendê (Epo Made So Alá).

 

Interessante observar que, muito embora o Epó Pupá e o Emú sejam Ewó de Òsàlá, ambos são apreciados por Ògún, o que nos mostra que, nem sempre o interdito para uma pessoa, será para outra. Muito embora, existam casos em que o Ewó é comum para todas as pessoas do Candomblé, como o caso da “Aranhola”, conforme já mencionado em postagens antecedentes.

 

Muitas pessoas comentam sobre os interditos alimentares, no entanto, existem muitas proibições que variam desde não poder usar roupas remendadas até não poder tomar banho de uma determinada folha ou conjunto de folhas. Esses Ewós são determinados em razão do Òrìsà da pessoa, bem como, o seu destino (Odù), identificado por meio de consulta ao oráculo.

 

Conforme início do texto, muitas pessoas acreditam que “se comeu e não sentiu nada, não é Ewó”. Mas, em verdade, as proibições não estão somente relacionadas a uma indisposição alimentar. A quebra do Ewó, invariavelmente implicará em prejuízos futuros, como uma possível cólera do seu santo, em razão do não cumprimento do interdito.

 

Quando um Sacerdote diz ao filho: “Meu filho, não coma abóbora”. Ele não está querendo lhe privar de algo que até você ser iniciado sempre lhe fez bem. Ele somente está lhe dando informações preciosas que contribuirá no futuro, para a sua edificação espiritual. O mesmo ocorre quando a Ìyálòrìsà diz: “meu filho, não coma Cajá e não use roupa vermelha”. Ela não quer lhe privar de um refresco saboroso ou da cor da moda. Ela somente quer o seu bem!

nov
24

Oxóssi é feito Rei de Ketu por Oxum

Oxóssi ia para uma caçada buscar comida para sua gente quando avistou Oxum nas águas doces. Encantou-se imediatamente com sua beleza, com seu deslumbramento nas águas cintilantes. Oxóssi entrou no rio para alcançar o orixá e lá ficou de amores com Oxum, esquecendo-se da fome de sua tribo.

Seus companheiros sentiam-se traídos e começaram a atirar flechas em Oxóssi. Oxum, que já estava enamorada de Oxóssi, começou a cantar uma cantiga de encantamento para defendê-lo das mortíferas flechadas.

“A ti re okê. A ti re nu balé ba re iô”.

Dos perseguidores tiveram que fugir. Oxum guiou Oxóssi na fuga. Encontraram guarida na cidade de Keto, onde Oxum deu a Oxóssi o posto de rei, o Alaketo.

Assim, Oxóssi, o caçador, também foi o rei de Keto.

 

[ Lenda 59 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]

nov
24

Iemanjá

Iemanjá ganha o poder de cuidar de todas as cabeças, Olodumaré fez o mundo e repartiu entre os orisás vários poderes, dando a cada um reino para cuidar.

A Exú deu o poder da comunicação e a posse das encruzilhadas, a Ogum o poder de forjar os utensílios para agricultura e o domínio de todos os caminhos, a Oxóssi o poder sobre a caça e a fartura. A Omulu o poder de controlar as doenças de pele, Oxumaré seria o arco-íris, embelezaria a terra e comandaria a chuva, trazendo sorte aos agricultores. Xangô recebeu o poder da justiça e sobre os trovões. Oyá reinaria sobre os mortos e teria poder sobre os raios. Ewá controlaria a subida dos mortos para o orum, bem como reinaria sobre os cemitérios. Oxum seria a divindade da beleza, da fertilidade das mulheres e de todas as riquezas materiais da terra, bem como teria o poder de reinar sobre os sentimentos de amor e ódio. Nanã recebeu a dádiva, por sua idade avançada, de ser a pura sabedoria dos mais velhos, além de ser o final de todos os mortais; nas profundezas de sua terra, os corpos dos mortos seriam recebidos. Além disso do seu reino sairia a lama da qual Oxalá modelaria os mortais, pois Odudua já havia criado o mundo. Todo o processo de criação terminou com o poder de Osoguian que inventou a cultura material.

Para Yemanjá, Olodumare destinou os cuidados da casa de Osalá, assim como a criação dos filhos e de todos os afazeres domésticos. Yemanjá trabalhava e reclamava de sua condição de menos favorecida, afinal, todos os outros deuses recebiam oferendas e homenagens e ela vivia como escrava. Durante muito tempo Yemanjá reclamou dessa condição e tanto falou nos ouvidos de Osalá, que este enlouqueceu. O ori (cabeça) de Oxalá não suportou os reclamos de Yemanjá. Oxalá ficou enfermo, Yemanjá deu-se conta do mal que fizera ao marido e, em poucos dias curou Oxalá. Oxalá agradecido foi a Olodumare pedir para que deixasse a Iemanjá o poder de cuidar de todas as cabeças. Desde então Iemanjá recebe oferendas e é homenageada quando se faz o bori (ritual propiciatório à cabeça) e demais ritos à cabeça.

Lenda tirada do livro: Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001

 

nov
16

PARÁBOLA DO OBÍ

Contam os nagôs ìgbómìna em solo brasileiro, que, após o cataclismo que separou a Terra (Àiyé) do Infinito (Sànmá), os habitantes do planeta Terra (ará-àiyé) não mediram esforços para aplacar a ira do Criador. Inúmeros preceitos e várias oferendas foram realizados em prol da obtenção do perdão do Senhor do Universo.

A remissão da pena era de suma importância, pois todo o contato com o Cosmo havia se perdido. Tantas foram as oferendas e súplicas que Olódùmarè apiedou-se e concedeu aos habitantes da terra um indulto pela falta cometida, permitindo o nascimento de um profeta. O mesmo ao nascer deveria chamar-se ‘Obí’.

Este ser predestinado não poderia discriminar as pessoas, tampouco recusar o atendimento às mesmas, sob pena de perder seus poderes. A palavra de Olódùmarè se cumpriu. Nove meses depois, nasceu o menino que recebeu o nome de ‘Obí’.

Os anos se passaram. Com o decorrer dos mesmos, ‘Obí’ tornou-se um homem famoso nos lugares mais longínquos do mundo. Infelizmente, não levou muito tempo para que a fama subisse à cabeça do jovem. Quando o mesmo se encontrou no auge da notoriedade, passou a ser indiferente e a menosprezar as pessoas mais carentes, chegando ao ponto de negar-lhes atendimento nos momentos mais difíceis de suas vidas.

Estes fatos não passaram por despercebidos ante os olhos de Èsù Alábojotu (Supervisor dos atos dos seres humanos), que tratou imediatamente de relatar ao Criador Excelso o procedimento do jovem ‘Obí’. Indignado com os fatos, Olódùmarè materializou-se e foi ter com ‘Obí’ por três vezes consecutivas. A primeira disfarçado de rico, a segunda passando-se por uma pessoa desprovida de recursos financeiros no momento do seu desespero e, por último, vestindo-se de mendigo.

Contudo, para seu infortúnio, as informações de Èsù Alábojotu eram verdadeiras. Não querendo crer no que seus olhos haviam presenciado Olódùmarè, fingindo-se de mendigo, retorna à porta do vidente ‘Obí’, suplicando atendimento. Mais uma vez, sem nada desconfiar, o profeta recusa o atendimento e expulsa o mendigo da sua casa, batendo com a porta na face do indigente.

Neste exato momento, o jovem ‘Obí’ ouve alguém chamá-lo à porta. Reconhecendo a voz de Olódùmarè – O Criador do Universo, corre rapidamente para abri-la. Quando a abre, depara com o mendigo que há poucos minutos havia negado o atendimento e expulsado da sua casa.

‘Obí’, ao perceber que o mendigo era seu Criador disfarçado, prostra-se aos pés do mesmo suplicando perdão. Irredutível, Olódùmarè se pronuncia: ‘Obí, tua missão na Terra como profeta está encerrada. Voltarás ao pó de onde vieste. No lugar em que fores enterrado, nascerá uma árvore que terá o teu nome, darás flores e frutos. “Eternamente tuas sementes cairão do alto dos teus galhos sobre o chão e, rolando pela terra, servirão de interpretação entre o profano e o sagrado’”

 

E assim, o ‘obí’ passou a servir de intérprete entre o profano e o sagrado, tornando-se desta maneira o 1º Oráculo dos habitantes da Terra.

Bibliografia: PENNA, Antonio dos Santos, Mérìndilogun Kawrí – Os Dezesseis Búzios. Páginas 57 e 58 – Produção Independente: RJ, 2001 – Ano 2009. Edição Revista e Ampliada. – ISBN 978-85-902226-4-4.

nov
11

Lendas de Òsún

 

Oxum sempre foi mulher vaidosa, bela e elegante ofuscava a todos com seu brilho vistoso. Uma coisa, porém fazia-lhe falta, queria muito saber sobre os mistérios de Ifá. Tinha sede do conhecimento dos oráculos, precisava conhecer o passado, presente e futuro, somente assim se sentiria realizada. Pensou bastante a respeito e resolveu procurar Exu, usou toda sua doçura e encanto para que ele lhe ensinasse os segredos. Exu sentiu-se atraído pela bela mulher, mas não era de entregar nada gratuitamente e lhe propôs um trato. Se ela ficasse junto dele por sete anos fazendo todos os serviços de sua casa, entregaria os mistérios que ela tanto desejava. Oxum aceitou e durante todo o tempo do trato, lavou, passou e cozinhou para Exu. No final do período tratado, Exu cumpriu o que havia prometido e liberou-a. A moça, entretanto havia se apaixonado e mesmo com os segredos em mãos preferiu continuar morando com ele. Assim viveram por muito tempo em perfeita harmonia. Um dia Oxum estava à beira de um rio cantando com maviosa voz enquanto penteava os cabelos. Xangô, que por ali passava, escondeu-se para ver de onde vinha tão maravilhosa melodia. Ao deparar-se com a beleza encantadora da bela mulher enamorou-se perdidamente. Impetuoso como sempre, foi até ela e declarou-se. Ela, porém, explicando sua condição de casada e feliz, recusou o amor que o homem dizia sentir. Tomado de fúria, não admitia ser contrariado, agarrou a mulher e levou-a para seu reino onde a trancafiou no alto de uma torre de onde somente sairia para unir-se a ele. Dias e noites sem fim se passaram e Oxum em sua masmorra apenas chorava em desespero. Enquanto isso, Exu vasculhava por todos os cantos do mundo a procura da mulher que aprendera a amar e respeitar.

Quando já estava para desistir, resolveu descansar à sombra de uma árvore, quando ouviu um canto melancólico e reconheceu imediatamente a voz que tanto amava. Rapidamente subiu até a torre e tomou conhecimento de tudo que acontecera. Tentou de todas as formas tirá-la dali, mas Xangô havia sido previdente, usara de um artifício mágico que deixava a mulher presa dentro de um circulo e somente ele conseguiria libertá-la. Sentindo-se derrotado, Exu foi embora jurando que voltaria. Andou sorumbático pelos caminhos, a cabeça em turbilhão, quando se deparou com um velho que perguntou o porquê daquela tristeza. Onde estava a alegria tão comentada de Exu? Ele não teve forças para responder, apontou o alto da torre que se via ao longe. O velho era Orunmilá e não precisou de mais detalhes, apenas queria saber o tamanho do amor que unia aqueles dois e a resposta do rapaz foi o suficiente. Tirou um saquinho de sua vestimenta e entregou a ele recomendando que aspergisse seu conteúdo sobre Oxum. Cheio de alegria e esperança Exu voltou correndo à prisão de sua amada. Sem dizer nada apenas jogou sobre ela todo o pó que Orunmilá lhe dera. No mesmo instante Oxum transformou-se em uma linda pomba dourada e saiu voando direto para seu lar onde mais tarde se reencontraram e viveram felizes por muitos anos.Fonte: http://pt.shvoong.com/humanities/religion-studies/1670967-lenda-oxum/#ixzz2Bqwrk92o

nov
10

A JUVENTUDE NAS MÃOS DOS RACISTAS

Nos tempos de hoje ainda existem pessoas que criam seus filhos como pessoas de mente pequena, preconceituosa. Abrir a mente de seu filho não quer dizer que ele vá querer provar do que você o mostra, muito pelo contrario, orientar ou disponibilizar certos assuntos é colocar o ser humano em formação no contato das mais variadas formas de outros seres, assim criando uma pessoa de entendimento aberto para caminhar nos diversos ambientes que a vida pode os levar. Ser preconceituoso não é inteligência e sim burrice. Vi numa matéria que alunos de uma escola estadual em Manaus se negaram a fazer um projeto sobre cultura africana, suas mentes estão tão tacanhas ao ponto de não quererem abordar livros de Jorge Amado, ou seja, querem ir contra o próprio vestibular ao qual estão sendo preparados, será que chegaremos a esse ponto? Não podemos abordar a cultura que iniciou a maior parte da civilização deste país? Por serem evangélicos, alguns alegaram que estão sendo vitimas de preconceito por a escola não aceitar a mudança do tema para uma missão evangélica, criticaram o livro por conter temas que abordam a cultura africana e o homossexualismo.

A escola segue as diretrizes da lei federal 10.635 e 11.4645 que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena nas escolas.

“Todo este tema está no currículo da escola, a discussão é sobre ensino das culturas e não sobre a religião” afirmou.

Raimunda Nonata Corrêa, dirigente da Coordenação Amazonense das Religiões de Matriz Africana (Carma), concordou que também a religião não era o foco do debate. “A escola não é espaço de disputa religioso, mas sim para qualificar um aluno com cidadão brasileiro, num país que é plural”.

A diretora da escola disse que nunca viu tamanha confusão em sete anos de trabalho naquela escola, isso nos mostra como um sinal vermelho latente, pois o século avança e as mentes continuam no século em que já evoluímos, somos racionais, seres com capacidade mental de formar ideias e opiniões, agir ou pensar assim é uma mostra de retrocesso, deixando a desejar tantos anos de sacrifícios para nos manter no topo da cadeia alimentar.

Por:  Andréa Gisele

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