fev
21

OS PRÍNCIPES DO DESTINO – PARTE V

QUARTA REUNIÃO

Havia um escravo chamado Odedirã, que vivia perseguido pelo seu senhor. Odedirã um dia ganhou um pintinho de um vizinho. ele o criou ate que se tornasse uma galinha. A galinha pôs ovos e os chocou. Nasceram muitos pintinhos que Odedirã criou. A criação de galinhas foi crescendo. Um dia, voltando da roça, ele encontrou todas as suas galinhas e todos os seus galos mortos. O seu senhor disse: “Tu és escravo ou dono de uma granja?”. Odedirã ficou tristíssimo  mas não disse nada. Limpou os frangos mortos, salgou e defumou a carne e a guardou.

Um dia ele ganhou uma cabritinha. A cabritinha cresceu e se tornou uma bela cabra, que deu muitos filhotes. A criação de cabras foi crescendo. Um dia, voltando da roça, encontrou todas as suas cabras e todos os seus cabritos mortos. O seu senhor disse: “Tu és escravo ou fazendeiro?”. Odedirã ficou tristíssimo, mas não disse nada. Limpou os animais mortos, salgou e defumou a carne e a guardou.

Quando veio a seca e faltou comida no seu pais, Odedirã vendeu as carnes defumadas e guardou o dinheiro. Um dia, voltando da roça, encontrou o seu senhor muito bem-vestido. Ele comprara ricas roupas, sapatos finos e belas joias. O escravo percebeu com que dinheiro tudo havia sido comprado, quando o seu senhor lhe disse: “Tu és escravo ou banqueiro?”. Vendo a tristeza do escravo o senhor disse: “Comprei pra ti este monte de ossos. Quem sabe tu não começas uma fabrica de botoes e te transformas num industrial? Pois parece que escravo tu não queres ser”. Odedirã nada respondeu e guardou os ossos.

Logo, logo, passaram por ali emissários do rei. Uma grande desgraça se abaterá sobre o reino. O príncipe herdeiro havia morrido e, se isso nao bastasse, mercenários sem escrúpulos tinham roubado o esqueleto do príncipe morto. Os soldados procuravam os ossos por todo o pais, será que alguém sabia dos despojos principescos?

Odedirã foi para dentro e voltou com uma caixa. “Aqui estão os restos de nosso amado príncipe , ele disse. “Foram abandonados aqui por ladroes em fuga”, completou. O rei ficou muito grato pela recuperação do esqueleto do filho. Os ossos foram enterrados na capital do reino com todas as solenidades funerárias costumeiras. Odedirã e seu senhor foram levados aos funerais como convidados especiais, como salvadores da patria. Ao final da cerimonia, o rei libertou o escravo Odedirã adotou-o como filho e o declarou seu príncipe herdeiro. Odedirã deu um pouco de dinheiro ao seu antigo senhor para que ele voltasse para casa e disse-lhe: “Quando eu era teu escravo, só para me roubar vivias perguntando o que eu era. Mas nunca soubeste o que eu queria ser. Eu não queria ser dono de granja, não queria ser fazendeiro nem banqueiro. Muito menos industrial. Eu só queria ser rei”. E entrou no palácio abraçado com o pai adotivo.

Conforme contou Ejiologbom, em parceria com Irossum, pouco antes do banquete da quarta reunião na casa celeste de Ifá

_______________________________________________________________________________________________________

A continuar……

fev
21

OS PRÍNCIPES DO DESTINO – PARTE IV

TERCEIRA REUNIÃO

O mensageiro e as vacas que pastavam no telhado

Conforme tinha determinado Ifá, no decimo sexto dia depois da reunião em que Obará contara a historia das aboboras, os dezesseis senhores do destino se juntaram e  partiram de novo em direção ao Céu dos orixás. Era a terceira reunião na casa de Ifá, no Orum, e quem mais falou foi Ejila-Xeborá, ajudado por Etaogundá. A historia que mais chamou a atenção tratava das artimanhas de um certo mensageiro muito popular de nome Exu. Antes de contar a historia, porém, valeria a pena sabermos um pouco mais sobre esse interessante personagem.

Naqueles tempos da Africa antiga, como gosta de contar o príncipe Ocanrã, um mensageiro iorubá se tornou muito famoso por suas artimanhas e pelas peças que pregava em quem quer que fosse. Seu nome era Exu e sua profissão era de levar mensagens  trazer recados e recomendações e ser o portador de mercadorias e presentes de tudo quanto é especie. Ganhava um bom dinheiro, Exu, pois nunca trabalhava de graça, exigindo sempre pagamento adiantado. Apesar do dinheiro que ganhava, Exu não tinha casa. Vivia pelas ruas e estradas, dormia nas encruzilhadas.  Exu estava sempre em movimento, sempre pra la e pra cá, levando e trazendo objetos e palavras.

Pois bem, contou Ejila-Xeborá, havia um homem que se chamava Babalequê, que vivia contando vantagens, inventando grandes lorotas e propalando proezas fantasiosas. Era potoca demais, era muita gabolice. O falastrão não se continha nunca. Bastava conversar com ele, dar-lhe corda, e la vinha uma de suas bravatas impagáveis.

Sua fama de mentiroso era tao grande que um dia o rei mandou chamar Babalequê e lhe disse que parasse com aquela mentirada. A ma fama do falador ja tinha ultrapassado as fronteiras do rei, fazendo rir os vizinhos, dele e do seu povo, para vergonha e desgosto do rei. Babalequê não se deu por vencido. e disse que era tudo invenção dos seus inimigos. As suas historias eram genuínas  suas proezas eram as mais verdadeiras. Ele disse ao rei: “Infelizmente sempre tem um invejoso a me perseguir. Outro dia plantei uns inhames cozidos e quando eles brotaram foram dizer que era mentira. como mentira, se estava tudo la para quem quisesse ver?”.

O rei ficou furioso com a audácia de Babalequê. Que atrevimento, contar uma mentira dessas para o rei! E sem nem sequer ficar vermelho. O rei então falou: “Amanha de manha nos reuniremos em minha roça e la tu plantaras inhames previamente cozidos. Se os inhames não brotarem no prazo devido, perderas a tua cabeça”. E dispensou o falador: “Podes te retirar agora”.

Babalequê ficou desesperado, e agora? “Ai de mim, ja sou um homem morto”, choramingou, desamparado. Mas como não era homem de não se entregar facilmente, foi ao mercado e comprou algumas coisas. Saiu então a procura de Exu, que encontrou descansando numa encruzilhada, vindo de uma entrega que fizera num lugar distante. Com um sorriso ardiloso ele abordou o mensageiro: “meu compadre querido, percebo que estas cansado. Vens de longa viagem e deves estar com fome. Vem dividir comigo este almoço”. Sabendo que Exu era guloso e que jamais recusava uma suculenta refeição  ele tinha comprado uma boa porcão e carne de cabrito refogada no azeite-de-dendê com muita pimenta, acompanhado de inhame assado e farofa, alem de uma garrafa de aguardente e uma quartinha de água fresca. Exu não se fez de rogado e e fartou. Comeu e lambeu os beiços. Babalequê contou que o rei o obrigava a plantar inhames cozidos, tudo por causa da intriga alheia, e que se os tubérculos não brotassem, ele teria sua cabeça decepada. “Ai de mim, já sou um homem morto”, choramingou Babalequê, desamparado. Exu, que tinha apreciado muito o almoço encorajou o amigo: “Tudo na vida tem uma saida, amigo. Podes contar comigo”.

Na manha seguinte, na presença do rei e com a companhia discreta de Exu, Babalequê abriu uma cova rasa na roça real e depositou nela alguns tubérculos de inhame que a cozinheira do palácio já tinha cozinhado. Nesse instante, Exu começou a gritar: “Olhem as vacas no telhado! Olhem as vacas no telhado do rei”. Todos se voltaram na direção do palácio  dando as costas para a plantação, e contemplaram surpresos, uma visão soberba. Muitas vacas estavam em cima da casa do rei, de pe no telhado de sapé, pastando com a maior tranquilidade. Durante alguns minutos de fascinação  enquanto todos estavam absortos, contemplando a espantosa cena, Babalequê abriu a cova e trocou os inhames cozidos por inhames frescos e fecundos, conforme Exu o tinha antes instruído.

Dias depois, sob a vigilância dos guardas reais, que dali não arredaram o pé  os inhames brotaram verdes e viçosos. O rei não teve outro jeito e libertou Babalequê. Mas que isso, acompanhando os pedidos de desculpa, deu a ele uma grande recompensa em ouro.

Babalequê foi se encontrar com Exu na encruzilhada. agradecendo pela ajuda, deu-lhe uma boa parte do premio que recebera e então perguntou ao mensageiro: “Meu caro, como foi que colocastes aquelas vacas todas pastando no telhado?”. Este respondeu: “Que vacas no telhado, meu amigo, que historia maluca é esta? Ja estas de novo a contar as tuas mentiras?”. E foi-se embora morrendo de rir.

_____________________________________________________________________________________________________

A continuar….

fev
21

IPETÉ DE OXUM

Ipeté de Oxum ou Peté de Oxum é o nome da comida de Oxum, e foi adotado o mesmo nome para a festa que se faz à Oxum anualmente em muitas casas de candomblé, em todo Brasil.
No Opó Afonjá, Mestre Didi conta que esta festa marca o encerramento das festas do ano. Nesse dia não há sacrifício, que já foram feitos nos dias anteriores. Há muita comida, galinha, pernil de porco, além de outras iguarias, que são distribuídas a todos que comparecem.
Além daquelas que são feitas para as obrigações dos Orixás e que serão também divididas entre os presentes, que são o adun (fubá de milho com azeite de dendê e açucar), o ekó (milho branco ralado e cozido, uma espécie de canjica, mais conhecido pelo nome de acaçá), o ixu (inhame), o aluá e o próprio peté.
Todos trabalham com afinco, cada um com seu trabalho: quem é de cozinhar, cozinha; quem é de fazer bandeiras, faz bandeiras; quem é de fazer surpresas, faz surpresas.
O Assobá, acompanhado dos Ogans da casa, organiza a arrumação do barracão, colocando bandeirinhas, Mariwôs, e folhas que servem de ornamentação, se enfeita o barracão sempre que há festa. Arruma mariôs também em todas as portas de todas as casas para livrar a todos de aproximação e irradiação de maléficos. Arruma também duas mesas, uma grande para a vasilha do peté e uma menor, para as surpresas.
Como não há sacrifício de animais nesse dia, também não há padê. A festa começa às cinco horas da tarde, com a procissão do peté. Saem todas as filhas de Orixá da casa de Oxum, cada uma com seu balainho, uns contendo o peté, com pratos e talheres, outro contendo adun e ekó. Outras ainda carregam cestas de flores ou bandejas com diversas surpresas. Cantam e dançam em Ijexá, enquanto os foguetes explodem.
Essa procissão é dentro da roça, vai até o Cruzeiro passando em frente à casa dos mortos (Ilê Ibó), fazendo-lhe uma certa reverência, saudando a antiga Iyalaxé (Aninha). Rumando para o barracão passam pela casa de Xangô, Iyá, Oxalá.
Quando chegam, todas as filhas que conduzem o carrego já estão manifestadas. São as pessoas mais velhas que recolhem e distribuem o peté e as surpresas nos devidos lugares. Nesse momento a Oxum da Iyalaxé senta-se no seu trono e as outras sentam-se em cadeiras comuns, metade de um lado e metade do outro, enquanto a comida é dividida.
Depois começa o xirê, com a dança da Oxum mais velha. Só quando ela volta a sentar-se é que todas as outras começam a dançar. E assim a festa se prolonga até a meia-noite, quando é encerrada com a roda de praxe, saudando Oduduá, pedindo paz, saúde e tranquilidade de espírito a todos do Axé, adeptos e convidados para que no próximo ano estejam todos novamente reunidos para as homenagens aos Orixás.
Na Casa Branca do Engenho Velho

fev
21

A Cidade das Mulheres – Documentário

Por: Lázaro Faria

O filme Cidade das Mulheres é uma resposta à Ruth Landes, antropóloga norte-americana que, no ano de 1939, esteve na Bahia pesquisando a raça negra e se surpreendeu com a força e a soberania que as mulheres do candomblé exerciam numa organização matriarcal. Seu pensamento será um dos fios condutores deste documentário, ilustrado por imagens das festas populares e dos cultos afr…icanos, das famosas mães de santo e da beleza exuberante da cidade de Salvador.

Cidade das Mulheres apresenta Mãe Estela, Yalorixá do terreiro Axé Opó Afonjá – um dos mais antigos e conceituados da Bahia, que vai contar a história do candomblé e a história da sua própria vida. Num belíssimo depoimento, mostrando o quanto está à frente do seu tempo, Mãe Estela discute o matriarcado, a força das mulheres e o sincretismo no Brasil. Por fim, ela fala do futuro e da esperança que tem na continuidade e na força do candomblé.

Permeando o pensamento de Mãe Estela estarão antropólogas, sociólogas, teólogas, mães de santo, comerciantes, enfim, as baianas, que irão enriquecer e fundamentar o seu discurso. O documentário vai mostrar a mulher do povo, a baiana do acarajé, a baiana comerciante da feira, a baiana empresária, como é sua vida e o que é ser baiana nos dias de hoje.

O documentário Cidade das Mulheres faz um panorama da identidade visual e cultural dessas baianas que, através das gerações, criaram um mito, deusas que atuam e interferem no quotidiano da cidade. Um símbolo de resistência, dignidade e, sobretudo, beleza.

No final dos anos trinta, a antropóloga Ruth Landes chegou ao Brasil, com a intenção de estudar as relações raciais no Brasil. Ao tentar comparar o racismo no Brasil e nos Estados Unidos ela se deparou com duas realidades diferentes, porém não menos exclusivistas. Os negros no Brasil não eram discriminados somente pela cor da pele, eles eram mantidos na ignorância e na miséria. Aos pobres restava a religião, o candomblé, que naquela época era proibido e perseguido.

Ao voltar para os Estados Unidos, discretamente expulsa do país por seus estudos sobre o candomblé, Ruth Landes lança o livro “Cidade das Mulheres”. Ela relata com clareza e com certo espanto, a força da baiana, essa mulher que inventou no Brasil um sistema matriarcal inédito, desenvolvido em torno do culto aos orixás, onde o poder é da mãe. Através das obrigações com os santos as mulheres foram para os mercados, tomaram as ruas com suas comidas e seus trajes exóticos, o que possibilitou sua liberdade econômica.

Cidade das Mulheres vem homenagear a força dessa mulher através de Mãe Estela, Yalorixá do terreiro Axé Opó Afonjá, símbolo maior de dignidade e doação, uma vida dedicada ao seu povo. Sua história, sua filosofia e seu legado estarão preservados através dos seus depoimentos. O principal objetivo deste documentário é mostrar o poder dessas mulheres, confirmar o matriarcado baiano com a afirmação de que a Bahia é a Cidade das Mulheres.

 

Título: A CIDADE DAS MULHERES
(ATLANTA PREMER)
Gênero: Documentário
Cidade e Ano: Brasil, 2005
72 minutos
Diretor:Lázaro Faria
Produtores:
Cleo Martins
Direção de Fotografia: Lázaro Faria
Edição: Isabella Lago
Música:Cleo Martins

fev
19

Fórum Permanente de Educação e Saúde Popular da Paraíba

Aconteceu no dia 02 de fevereiro de 2013, no Centro de Cultura Afro-brasileiro Ilê Axé Omidewá, o 4º Encontro do Fórum Permanente de Educação e Saúde Popular da Paraíba – “Os caminhos do SUS na Paraíba”. Com a participação do Movimento Social, Estudantes universitários (extensão da UFPB e algumas universidades particulares), representantes de Secretarias do Governo, Núcleo de Bioética da UFPB, Comunidade Nossa Senhora de Nazaré (Igreja Católica), entre outros.

Tivemos várias falas quando foram discutidos os atuais movimentos em torno do SUS, como a privatização de alguns setores deste. Também foram abordados temas como: a conquista do SUS, a privatização dos hospitais universitários, do hospital de trauma, os pontos positivos e negativos da terceirização destes setores.

Em seu 4º encontro, o Fórum é organizado pelo Programa de Educação Popular em Saúde da Universidade Federal da Paraíba (PROGEPS/UFPB), em parceria com o Movimento Popular de Saúde da Paraíba (MOPS/PB), Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa através do NAGEP o Centro Formador de Recursos Humanos da Secretaria Estadual de Saúde da Paraíba (Cefor/PB) e o Núcleo de Estudos e Pesquisa em Bioética NEPB/CCS/UFPB.

O Fórum Permanente de Educação e Saúde Popular da Paraíba é um espaço aberto a movimentos populares, gestão pública, estudantes, professores e todos que têm interesse no fortalecimento da Educação Popular na constituição de novos horizontes para o cuidado, a gestão, a formação e a participação popular em saúde.

Vale salientar que a política Nacional de Educação Popular em Saúde no Sistema Único de Saúde (PNEPS – SUS) é um resultado do processo de mobilização de Educação Popular e das práticas populares de saúde do país. Somente foi possível após um dialogo coletivo com a Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, o qual vem acolhendo grande parte das iniciativas de Educação popular em saúde no Governo Federal.

fev
16

OS PRÍNCIPES DO DESTINO – PARTE III

Segunda Reunião

O PRÍNCIPE INFELIZ E AS ABOBORAS DESPREZADAS

Ifá morava no Orum, o Céu dos orixás, mas os odus viviam perto do Aiê, o mundo dos humanos. Depois da primeira reunião na casa de Ifá, que havia sido tão desastrosa, os príncipes do destino seguiram o caminho para o Aiê. Todos menos Obará, que não tinha ido, porque seus quinze irmãos se esqueceram de levá-lo. Talvez o tivessem esquecido de proposito, uma vez que Obará só falava de coisas ruins, alem de ser pobre e não ter alegrias na vida, o que lhe valera o epíteto de Príncipe Infeliz.

Cada um levava nas costas a abobora ganha de Ifá. E como nenhum deles gostava de abobora, o peso do fruto só lhes dava cansaço e mau humor. estavam chegando ao seu pais e a fome apertava, mas abobora eles não iam comer, ah! Isso não  Alguém então se deu conta de que estavam já bem perto da casa de Obará. “Vamos comer na casa de Obará?”, alguém propôs. “Alguma coisa melhor que abobora nosso amado irmão ha de ter em sua casa, assim espero”, completou outro odu. Saíram todos correndo para acasa do Príncipe Infeliz, levando cada um sua abobora nas costas, pois não iam largar na estrada um presente de Ifá, mesmo que não apreciassem nada de seu sabor.

Foram acolhidos com grande alegria por Obará. Obará nunca recebia ninguém, ninguém o visitava. Ao contrario, todos o evitavam. E de repente, sem nenhum aviso, os seus quinze irmãos entravam em sua casa. Que alegria, que contentamento! “Vejo que vindes de longe, estais cansado”, disse Obará depois de abraçar cada um dos irmãos  “Imagino que estais famintos.” Ordenou às mulheres da casa que trouxessem aguá fresca e panos limpos em grande quantidade. “Lavai-vos dessa poeira da estrada e depois vamos comer, vamos festejar.”

Obará era pobre e oque tinha de comida em casa nem daria para alimentar os ratos que fuçavam na despensa. Mas a alegria de ter os irmãos em casa era incontida. Ordenou à esposa que fosse correndo ao mercado, que tomasse dinheiro emprestado, que pedisse fiado, e que comprasse tudo o que pudesse agradar ao paladar de um príncipe faminto porem exigente. coitado de Obará, ia ficar ainda mais pobre, mais endividado, mais enrascado na vida. era assim o destino de Obará, era essa a sina dos afilhados desse príncipe do destino. Perdiam tudo, mas não aprendiam nunca, sempre se metendo em novos apuros e apertos.

E então la se foi a mulher de Obará ao mercado, de onde voltou acompanhada de muitos ajudantes carregados de cabritos, leitões e frangos. Traziam também balaios de inhame, feijão e farinha, potes de azeite-de-dendê, porcões de sal, vasilhas de pimenta, postas de peixe e peneiras de camarão  garrafas de vinho, litros de cerveja. e o banquete que foi preparado e comido nunca mais seria esquecido por ninguém do lugar. Os príncipes comeram ate se fartar, comeram bem como nunca tinham comido antes. terminado a comilança, os odus despediram-se do irmão e prometeram voltar mais vezes, pois comida deliciosa e farta como aquela não havia. De barriga cheia como estavam então, não deram conta de levar suas desprezíveis aboboras e as largaram todas abandonadas no quintal de Obará.

Os príncipes partiram e Obará ficou sozinho. sua mulher limpando os restos da principesca comilança, as aboboras abandonadas abarrotando o quintal, os credores já ameaçando bater à sua porta. Quando no dia seguinte todos os mercadores do lugar se recusaram a vender fiado a Obará o que quer que fosse antes que ele pagasse o que devia, faltou de novo comida na mesa de Obará. Conformado, ele disse à mulher: “Vamos comer abobora”. Foi ate o quintal onde os príncipes abandonaram as aboboras e com uma faca partiu uma que lhe parecia bem madura. A abobora estava recheada de pepitas de ouro! Obará, boquiaberto, abriu a segunda abobora, no lugar das sementes, diamantes, enormes. A outra trazia perolas e a seguinte esmeraldas. Obará estava enlouquecido. Ele gritava, dançava, gargalhava, abraçava a mulher e ia abrindo as aboboras.

Foi assim que Obará se transformou no mais rico dos príncipes do destino, ele gosta muito de contar essa sua historia. Foi assim que Obará se transformou no mais respeitado, invejado e querido de todos os viventes de sua terra, o mais desejado de todos os padrinhos. Todos os pais e mãe querem que seus filhos tenham Obará para seu odu. Nunca mais ele foi chamado de Príncipe Infeliz. Pois o odu Obará é o odu da riqueza inesperada. Suas historias agora falam também de prosperidade, de muito dinheiro e bem-estar material, contam de ganhos, conquistas, vitorias e finais felizes. Mas para alcançar tamanho sucesso, alem da proteção do padrinho Obará, é preciso ter o coração bom (ou, como dizem alguns, ter o juízo um pouco mole), como tem Obará.

Foi o próprio Obará que, com muita alegria, contou essa historia na segunda reunião com Ifá, tendo sido ajudado pelo príncipe Ejiocô, que enfatizava as passagens mais interessantes. seus irmãos permaneceram quietos e cabisbaixos enquanto Obará se divertia com a narrativa. Mas ao final, quando o banquete foi servido, um grande contentamento voltou a tomar conta de todos na casa celeste de Ifá.

 

fev
15

OS PRÍNCIPES DO DESTINO – PARTE II

PRIMEIRA REUNIÃO

OS PRÍNCIPES DO DESTINO CONTAM HISTÓRIAS NO CÉU

Um dia, desejoso de saber como ia a missão que ele tinha atribuído aos dezesseis príncipes do destino, Ifá os convocou para comparecerem a sua casa no Céu  Ifá queria saber de tudo o que acontecia na Terra,queria ouvir todas as historias reunidas pelos odus. Os príncipes adoraram o convite, pois depois de contarem todas aquelas historias que aconteciam na terra dos homens e mulheres, Ifá mandaria servir o mais precioso dos banquetes, com todo tipo de comida e bebida que se possa imaginar, como era o costume em ocasiões festivas. Bastou chegar a convocação de Ifá e os odus logo se reunirão com grande animação  uns avisando aos outros do encontro.

E lá foram os dezesseis príncipes do destino a casa de Ifá. Lá foram Ocanrã, Ejiocô, Etaogundá e Irossum, mais Oxé, Odi, Ejiobê e Ossá, acompanhados de Ofum, Ouorim e Ejilá-Xeborá e também por Ejiologbom, Icá, Oturá e Oturopom. Lá se foram naquele dia os dezesseis odus a casa de Ifá. Opa! Dezesseis  não,quinze. Falta um nessa lista aí. Sim, um dos dezesseis odus não estavam com os demais. Estava faltando o príncipe Obará. Como ninguém gostava do Príncipe Infeliz, ninguém o avisou daquela reunião  Afinal, ele só falava de desgraças, de pobrezas, misérias, riquezas perdidas, traições. Ninguém gostava de sua companhia, nem mesmo os seus quinze irmãos  Então ninguém se lembrou de chamar Obará.

Chegando eles à casa de Ifá, a reunião celeste começou normalmente. Falaram disso e daquilo, contaram e ouviram casos interessantes, riram, se divertiram, caçoaram um dos outros, todos ansiando pelas delicias do banquete de encerramento. Nem podiam esperar o delicioso momento. Foi então que Ifá perguntou: “Ouvi hoje contar muitas historias, mas só ouvir contar historias de ganhadores, de pessoas sadias, ricas, amadas e contentes. E nada aconteceu de perdas materiais, roubos, bancarrotas? Ninguém tem nada a me contar sobre aqueles que sofreram esses dolorosos indesejáveis golpes da vida? Que fale Obará, pois o assunto é dele”. Mas se dando conta de que havia algo errado, Ifá perguntou, intrigado, perscrutando a audiência  “Mas cade o príncipe Obará, onde ele está?”. Os odus olharam uns para os outros, sem jeito, desconcertados e temerosos. Fez-se um silencio constrangedor, ate que um deles de cabeça baixa, ousou falar: “O Nosso Sábio Senhor Ifá há de nos perdoar, mas esquecemos de trazer conosco Obará, nosso tristonho irmão que assiste os perdedores”. Ifá ficou muito irritado com tal descaso. Afinal, o Príncipe Infeliz também era importante, pois não existe felicidade sem sofrimento, nem riqueza sem miséria,nem saúde sem doença, nem vitoria sem derrota, nem amor sem abandono, e assim por diante. Ou os odus trabalhavam todos juntos, ou não eram nada. Falar da vida do homem sem falar de seus momentos ruins era querer falsear a realidade, asseverou Ifá.

Ifá determinou que a partir de então todos os odus deveriam vir juntos a sua casa, a cada dezesseis dias, para contar todas as historias ja acontecidas, ate que se completassem dezesseis reuniões  a contar daquela que ora se encerrava. A cada dezesseis dias ele queria ver os dezesseis odus, sem que faltassem nenhum deles. “E que não falte nem mesmo Obará”, ordenou.

Como punição por terem se esquecido de trazerem o irmão  Ifá resolveu que não ia oferecer aos príncipes do destino o delicioso banquete que  havia preparado. Que se retirassem sem comer, pois. “Ah!”, foi o lamento de surpresa e frustração que os quinze odus deixaram escapar em uníssono  Mas para que não morressem de fome no caminho de volta e para que ninguém dissesse que ele era um  velho sovina, Ifá disse q eu dava a cada um deles uma  abobora. e deu por encerrada a reunião  Os príncipes pegaram suas aboboras, agradeceram, despediram-se com muita reverência e muitos pedidos de desculpa e foram tomando o caminho de casa, todos juntos.

Mas esta historia não acaba aqui e quem quiser conhecer seu fim tem que continuar a leitura, para saber o que foi falado na segunda reunião  na qual o próprio Obará contou a todos os presentes sobre o justo desfecho deste caso.

——————————————————————————————————————————————————————–

Continuamos amanhã….

fev
14

OS PRÍNCIPES DO DESTINO – PARTE I

A tempos venho pensando em começar um projeto que estava guardado em meu coração e hoje acordei com esta pergunta: E PORQUE NÃO COMEÇAR LOGO? Em minhas leituras sobre o candomblé sinto uma sintonia imensa quando o assunto é abordado para o público infanto-juvenil, na intenção de ajudar minha filha a compreender o nosso universo dentro da religiao de matriz africana, comecei a mostrar para ela e me encantei, é uma forma de fácil entendimento e que pode ser repassado sem mistérios para quem se interessa pela religião e/ou não tem acesso a este tipo de leitura, vou começar a postar, com a ajuda de Marina (minha filha), capítulos do livro: PRÍNCIPES DO DESTINO – Histórias da mitologia afro-brasileira – Autor: Reginaldo Prandi.

BOA LEITURA!

Andréa Gisele

———————————————————————————————————————————————————————

INTRODUÇÃO

Os dezesseis príncipes e as histórias do destino

Há muito tempo, num antigo país da África, dezesseis príncipes negros trabalhavam juntos numa missão da mais alta importância para seu povo, povo que chamamos de iorubá. Seu oficio era colecionar e contar historias. O tradicional povo iorubá acreditava que tudo na vida se repete. Assim, o que acontece e acontecerá na vida de alguém já aconteceu muito antes a outra pessoa.

Saber as historias já acontecidas, as historias do passado, significa para eles saber o que acontece e o que vai acontecer na vida daqueles que vivem o presente. Pois eles acreditavam que tudo na vida é repetição. e as historias tinham que ser aprendidas de cor e transmitidas de boca em boca, de geração a geração  pois, como muitos outros velhos povos do mundo, os iorubás antigos não conheciam a palavra escrita.

Na língua ioruba dos nossos dezesseis príncipes havia uma palavra para se referir a eles. Eles eram chamados de odus, que poderíamos traduzir como portadores do destino.  Os príncipes odus colecionavam as historias dos que viveram em tempos passados, sendo cada um deles por um determinado assunto. Assim, o odu chamado Oxé sabia todas as historias de amor. Odi sabia as historias que falavam de viagens,  negócios e guerras. Ossá sabia tudo a respeito da vida em família e da maternidade. E assim por diante. As historias falavam de tudo que acontece na vida das pessoas, de aspectos positivos e negativos, pois tudo tem o seu lado bom e o seu lado ruim.

Quando uma criança iorubá nascia, um dos dezesseis odus passava a cuidar de seu destino, de modo que na vida da nova criatura se repetiriam as historias contadas pelo príncipe que era o seu odu, o padrinho de seu destino. Sim, cada criança nascida naquele país tinha um odu protetor e esse odu acompanhava pela vida afora, era seu  destino. E tudo que lhe acontecia estava previsto nas histórias que o príncipe protetor gostava de contar. Não era incomum um menino dizer aos amiguinhos: “Sou afilhado do príncipe Ejiobê e por isso vou ser muito inteligente e equilibrado”. “Meu odu é o príncipe Ocanrã e por isso sou assim esperto”, gabava-se, orgulhoso, outro moleque. “O  odu que rege meu destino é Odi e eu vou ser um guerreiro valente e vitorioso”, falava um terceiro menino, sonhando com um destino venturoso, já se sentindo o maioral da criançada. Por isso chamamos os odus de príncipes do destino.

Bem, formavam o time completo dos odus os príncipes Ocanrã, Ejiocô, Etaogundá e Iorossum, mais Oxé, Obará, Odí e Ejiobê, além de Ossá, Ofum, Ouorim e Ejila-Xeborá e também Ejiologbom, Icá, Oturá e Oturopom. Fazendo um pequeno comentário  os tais príncipes tinham nomes bem esquisitos, não é? Mas só porque são nomes africanos e nós somos brasileiros. Sendo assim, nossos ouvidos não estão acostumados com eles. Cada povo tem sua língua e cada língua tem seus sons e suas palavras. Quem fala uma língua acha os sons de outra esquisitos. se contássemos uma historia semelhante a esta para crianças africanas e disséssemos que nossos heróis eram chamados de Francisco, Vinicius, Pedro e Joaquim, elas iam achar os nomes muito estranhos, como nós achamos fora do comum os deles.

Entre os dezesseis príncipes do destino, Ejila-Xeborá talvez fosse o odu mais invejado, pois aqueles que tinham a vida regida por ele estavam fadados a agir com justiça e conhecer o sucesso, desde que não fizessem nenhuma besteira, é claro. Já o odu Obará só sabia falar de coisas tristes como as historias dos que são roubados, dos que perdem bens materiais, dos que não conseguem realizar ate o fim nada de bom, sempre envolvidos em fracasso e frustração. Por isso ninguém gostava de conversar com Obará, pois lá ia ele contando aquelas historias infelizes. E é claro que ninguém queria ter Obará, coitado, como padrinho de algum filho seu.

Acima dos dezesseis príncipes odus estava o Senhor do Destino, o deus que os iorubas chamavam de Ifá. Os antigos iorubás cultuavam muitos deuses, que eles chamavam orixás, e cada orixá cuidava de um diferente aspecto do mundo. Ifá era o orixá do destino, o mestre do acontecer da vida, e os odus trabalhavam para ele. Ifá vivia no Céu dos orixás, que era chamado de Orum. De lá ele comandava os príncipes odus. Os odus orientavam o destino dos seres humanos, mas Ifá os vigiava com muita atenção, para que tudo saísse como deveria ser na vida de cada homem, na vida de cada mulher, fosse um velho, fosse um adulto, fosse uma criança.

——————————————————————————————————————————————————————–

Aguardem continuação….

 

fev
14

Os sacrifícios no candomblé

Sacrifício é uma palavra que devemos ressaltar em nosso culto, quando ofertamos qualquer elemento ao Òrìsá devemos tratá-lo também como EBÓ.

Ebó é todo elemento ofertado a uma força espiritual, seja ela de que natureza for, ajogun (forças negativas), irunmolé (òrìsás que não são funfun-branco) ou òrìsá funfun.

Quanto ao Ebó Ejé, oferecimento de sangue, as críticas tornaram-se cada vez mais contundentes, com apoio externo, inclusive da mídia, que não perde a oportunidade de associar qualquer fato ligado ao nosso culto com Bruxaria, Magia Negra, Vodoo (como aspecto pejorativo) e etc…

É surpreendente como pessoas que são leigas nestes fundamentos e incapazes de resolver problemas gravíssimos que a religião Iorubá por inumeras vezes se defronta e resolve, vem nos atacar nos chamando de primitivos e incivilizados.

Creio que civilizado para eles, é a forma como os matadouros abatem estes animais, as touradas do México e da Espanha católica, os safáris, caçadas na Inglaterra anglicana, as rinhas de galo / cães e etc…

Não se questiona a vida perdida dos animais sem nenhum propósito, ufanismos à parte, o que importa é o produto final. O contrabando de animais silvestres e exoticos, criação de pássaros em cativeiro, criados em gaiolas como souvenir e pesca de arrasto que mata indiscriminadamente e vorazmente servem apenas para aguçar a vaidade de possuir um acessório de pele e/ou couro e a ganância financeira. As iguarias gastronomicas fornecidas por animais em extinção não é questionada, a vida perdida destes animais sem nenhum propósito, não passa de um meio.

Imolação maior fez o Cristianismo, a religião do amor, que com sua Inquisição e Cruzadas, dizimou milhares de vidas e faz-se vista grossa para tal acontecimento, tratando-o apenas como fato histórico, isto sim é inexpugnável.

Discriminar e perseguir religião alheia é certamente muito mais grave que qualquer ato litúrgico praticado por nós.

Não somos dissimulados ao ponto de ignorar o ciclo de vida e morte, sabemos de nossas responsabilidades.

A Terra (Ikole Aiye), como um grande Ile ikú, alimentada por este ciclo de morte e renascimento desde os primórdios, nos fornece o material necessário impregnado dos elementos insubstituiveis para nossa liturgia, não podemos deixar que uma visão utópica transgrida essa lei sagrada.

Dentro do Velho Testamento encontraremos o Levitico, o terceiro livro da Bíblia atribuído a Moisés. Os judeus chamam-no Vayikrá. Basicamente é um livro teocrático, isto é, seu caráter é legislativo; possui, ainda, em seu texto, o ritual dos sacrifícios, as normas que diferenciam o puro do impuro, a lei da santidade e o calendário litúrgico entre outras normas e legislações que regulariam a religião.

A maioria das pessoas que consomem carne não se preocupa com a origem deste animal, seu abate e posterior comercialização, estão desconectados da realidade. Menciono também os vegetarianos, que ao tirar da terra legumes, verduras e hortaliças, também estão tirando vidas, neste caso, eliminando a seiva, sangue verde, a respiração, a fotossíntese, deixando de ser um ser vivo para lhe dar a vida.

Dentro do Culto Ioruba a imolação de animais é tratada com respeito, gbaduras e orikis, onde este sangue estará dando vida a outros e fertilizando a própria terra.

Lembrando o itan onde Olodunmarè determina que a terra, Onilè, será o principal receptáculo de todo oferecimento.

Dentro de Ifá, nos Odu Irete-meji e Oturupon’turá, Òrúnmìlá determina a troca dos seres humanos pelo dos animais, foi quando a cabra substituiu a filha de Òrúnmìlá no ritual de ebó ejè.

A permanência do ser humano sobre a Terra exige sacrifícios constantes. Sacrifício de tempo e de privação de algo em detrimento de outro, o sacrifício das transformações e a oferta de dinheiro à custa de esforço através do trabalho, todos girando em um processo interminável que se resume a dar e receber.

Os sacrifícios de animais praticados pela religião iorubana, vão além do ASÈ, servem para alimentar o povo, pois a carne é consumida pelo egbè.

Note-se que a vida animal oferecida através de ebó, dentro do Culto Yoruba, é rezada e seu espírito enviado com todo o respeito a terra dos ancestrais e para os nove espaços do orun.

EBÓ.

Uma das três formas de asé encontrada no reino animal é o Ejé, o sangue.

O sangue que nos dá a vida em sua plenitude, sempre foi considerado divino, não existe um laboratório que o fabrique, é a força divina em seu estado material.

Tudo incluído na composição da Terra esta contido, também, na composição do sangue. Por exemplo, zinco, água, minerais, ferro, magnésio, etc… Note-se que todos os reinos, seja ele mineral, vegetal ou animal, está contido em nosso sangue e vice-e-versa.

Sacrificar os animais não são regras e as orações específicas da ação dão graças a Deus pelo sacrifício.

Exemplo: O primeiro passo é agradecer a Deus pelo espírito do animal que vai em missão. Então, nós agradecemos a Deus pela comida, a carne que vamos comer e agradecemos também a Mãe Terra, Onilè, que nos deu este alimento para sobreviver.

Os demais componentes litúrgicos tem sua missão, tais como:

Obi: Utilizado como oráculo para conversar com as energias e para onde encaminhar os ebós, aplacar a ira de energias negativas e a fruta da vida onde no momento de comunhão com os Orisas a pessoa se conecta com sua ancestralidade.

Orogbo: Utilizado para vida longa, aumento de resistência e perseverança da pessoa, quando utilizado com casca para que um segredo não seja revelado.

Oyin (mel):Utilizado para alegria, bem estar, harmonia, prosperidade e para que algo ou alguém nunca seja desprezado.

Epo (dendê):Elemento de efeito calmante, trás equilíbrio e facilidades.

Iyó (sal):Para sorte e preservação, para que a pessoa consiga manter suas conquistas. Dinheiro e vida longa.

Atare:Utilizado para consagrar o diálogo dar forças as palavras, utilizados em comidas e também para multiplicar os desejos.

Oti ( mais usado em rituais, Gin ) O GIN TEM COMO PRINCIPIO A PURIFICAÇÃO DA PALAVRA. E TAMBÉM O DESPERTAR DA ENERGIA. A FAVOR DO SUPLICANTE.

Owo eró:búzios utilizados para comprar AS DIVIDAS E A FALTA DE DINHEIRO das pessoas.

Moedas antigas:Utilizadas para pagar os Ajóguns (energias negativas que podem ou não estarem ligadas com as Yami.

Osun: usado para que a essência vital, simbolizando o sangue vermelho vergetal, para que o asè e as conquistas não se acabem.

Efun: para atrair o asé, representa a água.

Yerosun:Elemento sagrado de Ifá tem o poder de transmitir o asé de Odú ao que esta sendo feito, ativar o Odú Ifá.

E outros elementos mais.

Vemos então um conjunto de elementos que agrupados vão fornecer o produto final a ser enviado ao Alto, Ikolé Oorun.

Nossa religião, como uma das mais antigas, tendo sua ritualistica registrada nos Esès, ESCRITURAS SAGRADAS, ditadas por Òrúnmìlá e registradas por Ifá, o òrìsá da sabedoria e testemunha de tudo que existe no universo. Mobiliza e transfere este asé atravéz de rituais de várias especies, que são direcionados a Olodunmarè pelo portal que é aberto por Ose’turà e encaminhado por Esú.

Os Ebós Ejè oferecidos dão movimento ao fluido vital liberado, o asè, que atua fora do campo material tendo o poder de transformação sobre coisas desejadas ou indesejadas que estejam afetando o ser humano.

O òrìsá, como energia do cosmos, não necessita de comida propriamente dita e muito menos de sangue, o sangue nada mais é que o fluido vital que corre em nossas veias nos assegurando a sobrevivência , como é inerente a todos os seres vivos. Quando este material, ejè, é encantado e liberado, ele atua como veiculo operador, atua como uma profilaxia espiritual ou reforçando a energia já instalada.

As correntes que se opõem a esta prática, nos taxando de primitivos, desconhecem o poder deste veiculo, como trasferidor de asè.

Podem de uma certa maneira estar tentando criar uma nova religião, como temos visto pessoas pregando o Candomblé Verde, embora isso também seja sacrifício, desde que orientado por Ifá, não quer dizer que o sangue animal seja excluido.

O que temos que ter em mente é a sacralidade do ato, o silencio, o respeito, as orações, os orikis e os ofós, devem seguir uma ritualistica condizente com o momento, onde todos os participantes, principalmente Onilus e Asogun responsáveis pelo ato sagrado da imolação e o sacerdote proferidor das palavras encantadas.

A Iyábase, responsavel pela sequência do ato liturgico, é por demais importante na finalização do Oro, onde a preparação do eran, carne, seguirá ordens ditadas pela energia invocada, atravéz de Ifá, no jogo de Obi abatá.

Ao se encerrar a missão com todos os elementos colocados aos ‘pés’ do Igbá ou ojubó, igbá coletivo da casa, saberemos se tudo foi aceito por Òlodunmarè, com nova caida do obi, orogbo,esun isu (inhame cozido) ou igbin (caracol).

Tudo finalizado damos sequência com a preparação do nosso banquete, onde nos confraternizamos e agradecemos a Olodunmarè e a Onilè o alimento recebido.

Asè.

Por: Heliane Haas, Olowo Ifarunaola e Da Ilha

fev
12

OS NOVE ÓRUN DE OYÁ

Assim como Nanã e Obaluaê, Iansã também está ligada ao culto dos mortos, dos Eguns. Porém, ao contrário destes, Oyá não determina a vida ou a morte, sua função limita-se em guiar, conduzir, o espírito desde seu despr…endimento do corpo até um dos nove Orùns, de acordo com as orientações e/ou julgamento de Olodumaré.
Para assumir esse “cargo”, Iansã, segundo a mitologia Yoruba, após inúmeras tentativas, convenceu ou conquistou a confiança de Obaluaê, que lhe ensinou a lidar e comandar os Eguns. Porém, Iansã recebeu de Oxossi um Erukerê especial, chamado de Iruexim ou Eruxim, feito de rabo de cavalo, que tem o encantamento de comandar ou se proteger desses espíritos. Assim, Oyá encaminha os espíritos a um dos nove Oruns, que são:

Orun Alààfia: Espaço de muita paz e tranqüilidade, reservado para pessoas de temperamento brando, índole pacífica. Bondosas, pacatas.

Orun Funfun: Espaço para os inocentes, espíritos de crianças, de pureza de sentimentos e intenções.

Orun Bàbá Eni: Espaço para os grandes sacerdotes e sacerdotizas, Babalorixás, Yalorixás, Ogans, Ekedes, enfim, espaço para todos os que possuem tempo e responsabilidade dentro do culto afro.

Orun Afèfé: Local de oportunidades, de correção para os espíritos, possibilidades de reencarnação, volta ao Aye (terra).

Orun Ìsolù ou Àsàlù: Local de julgamento por Olodumarè para decidir qual dos respectivos Orùns o espírito será conduzido.

Orun Àpáàdì: Reservado para espíritos impossíveis de ser reparados.

Orun Rere: Espaço para aqueles que foram bons durante a vida.

Orun Burukú: Espaço ruim, IBONAN “ Quente como pimenta”. Reservado para as pessoas más.

Orun Marè: Espaço para aqueles que permanecem que tem autoridade absoluta sobre tudo que há no ORUN (céu) e no AYÊ (terra); para os absolutamente perfeitos, os supremos em qualidades e feitos. Reservado à Olodumarè e todos os Orixás e divindades.

A partir desse conhecimento é possível perceber a grande importância que Iansã representa em nossas vidas. Nota-se também, que Oyá é um orixá fundamental para o equilíbrio espiritual, pois é ela quem domina o ERÓ IKU (segredo da morte). Sendo assim, as Oyás do culto GBALÉ ou IGBALÈ, são as que exercem essas características, porém é importante esclarecer que toda IANSÃ possui poder sobre os Eguns (mortos) e Ikú (morte) e que a palavra IGBALÈ significa: – Aquela que varre a terra. Entretanto, as Oyás Igbalè’s, exercem tal domínio como característica essencial.

Posts mais antigos «

» Posts mais novos

seo services