fev
28

OS PRÍNCIPES DO DESTINO – PARTE X

NONA REUNIÃO

A mãe dos peixes leva para seu reino os filhos homens

Na  nona reunião foram narradas dezesseis historias, mas a que mereceu aplausos incontidos foi a contada por Ossá. A historia falava de Iemanjá, que era casada com o rei Oquerê. Eles viviam bem, cumprindo os acordos matrimoniais, mas um dia cada um falou mais do que devia e as palavras de um ofenderam gravemente o outro. Brigaram como nunca tinham brigado antes. Dolorosamente, agressões verbais se materializaram. Temendo a fúria de Oquerê, Iemanjá fugiu, correu desabalada. Ele foi atras dela, perseguiu-a pelas estradas. Quando Oquerê alcançou Iemanjá e se lançou sobre ela, ela caiu no chão, quase vencida. Mas Iemanjá tinha um frasco que sua mãe, que era Olocum, a Senhora do Oceano, lha dera. Ao cair, Iemanjá derrubou o frasco e o mesmo se abriu. em seu conteúdo  liquido se formou um caudaloso rio. E fugindo pelo rio la se foi Iemanjá. La se foi Odoiá, que na língua do lugar é Mãe do Rio.

O rio ia levando Iemanjá em fuga para o mar, para o oceano, que era o reino de sua mãe  Mas o rei se transformou numa montanha e interceptou a fuga do rio que corria para o mar. Desesperada, Iemanjá chamou por seu filho Xangô, deus do trovão  Xangô lançou seus raios pela montanha e a partiu em duas, abrindo caminho para o rio, que prosseguiu na direção do litoral. Em meio às trovoadas de Xangô, Iemanjá prosseguiu seu curso e alcançou o mar, alcançou a proteção de sua mãe no mar, onde ela reina ate hoje, onde sucedeu a mãe e é rainha. Rainha do Mar, Iemanjá.

Como essa historia merecia muitos aplausos, Ossá acrescentou que ainda havia o que dizer de Iemanjá naquela nona reunião na casa de Ifá, no Orum. Contou que o mar é o reino de Iemanjá e ela é a mãe de tudo que ali tem vida. Os peixes, os mamíferos marítimos, os moluscos, tudo pertence a Iemanjá  tudo é filho seu. Iemanjá quer dizer exatamente Mãe dos Peixes, na língua do seu povo, os iorubás  Quando o mar se enfurece e suas ondas crescem e se precipitam temerosamente sobre a praia, os pescadores sabem que Iemanjá foi ofendida. Sabem que Iemanjá, a mãe do mar, a rainha das águas  está sofrendo pelos filhos peixes que foram arrancados de suas águas pelos pescadores. Os pescadores oferecem presentes a Iemanjá e a chamam de mãe,  pedem sua benção e sua compaixão. Iemanjá aceita os presentes e se acalma.

Mas não passa muito tempo e alguém perde a vida nas águas de Iemanjá  A mãe do mar leva para seu seio profundo o filho pescador, afoga em suas ondas o imprudente nadador. Em algum lugar da vastidão da Terra, em alguma praia, em algum  mar, alguém esta roubando os filhos peixes de Iemanjá. Em troca ela leva para sua companhia algum filho humano.

O banquete serviu para alegrar de novo os príncipes  que não se esconderam a tristeza que nesse final neles provocou, na nona reunião na casa de Ifá, no Orum.

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A continuar….

fev
27

O Culto de Egungun

O culto nasceu da independência de Oyá do poder dos homens. As façanhas que dão a ela o domínio dos ancestrais são muitas, mas a mais conhecida é a de que o próprio Rei da Terra lhe deu esse poder.

Oyá morou com Odé, com quem aprendeu a caçar. Com Oxaguiã aprendeu a usar a mente e a pilar as folhas. De Ossanha aprendeu alguns segredos das folhas. Com Ogum aprendeu a lutar e pegou de Xangô o poder sobre o raio e as tempestades.

Oyá mostrara pra todos os homens que era auto-suficiente e que não dependia deles. Mas de todos os reinos só não tinha recebido o dom do próprio rei da Terra. Chegou ao reino de Obaluaê confiante, e logo se chegou para o senhor que não expressava nada.

Oyá que sempre fora muito sensual começou a dançar, mas nem isso fez com que ele se curvasse a seus encantos. Ela, já sem alternativas dançou pelos sete cantos da Terra, dança que nenhum homem jamais resistiu e poucos foram testemunha, mas NADA.

“Por quê? Por que não te atraio? Ou não me vês?”

Obaluaê se dirigiu a ela e disse:
“És linda. Mas não é assim que conseguirá nada de mim”.

Oyá então postou-se de joelhos e implorou que Obaluaê a ensinasse algo. Foi então que esse lhe deu o Eruexim e disse: A partir de hoje controlará os espíritos. Será a guardiã do limiar da morte. É dever de Oyá guiar as almas para os planos espirituais. Desde então ela (algumas qualidades) tem o dever de guiar os mortos para o Orún (céu).

Eparrey!

fev
27

Por que não comer caranguejo?


Este itan nos remete a importancia de não trairmos as divindades, não jurar em vão, não falsear com as palavras.

Devemos ser corretos e transparentes em nossas atitudes. Você que ainda não se iniciou e pretende se iniciar saiba que iniciar para o òrìsá é re-iniciar, é cuidar de suas maneiras é ganhar uma nova oportunidade.

A oferta de Olodunmarè é generosa. Re inicie-se, dê uma nova chance a sua vida.

• Como o caranguejo ficou sem a cabeça.

Quando o mundo foi criado, nenhum animal possuía cabeça.

Entretanto, Olofin havia prometido que um dia, todos seriam aquinhoados com cabeças, mas, como se tratasse de um número muito grande de pretendentes, não havia previsão de data para a entrega. A verdade é que todos andavam muito ansiosos pelo momento de poderem desfilar exibindo belas cabeças, dotadas, segundo se dizia, de olhos, boca, orelhas e tudo o mais que compõe uma boa e verdadeira cabeça.

Naquela época o caranguejo era um bom adivinho e vivia desta atividade. Todos os bichos da região eram seus clientes e ele orgulhava-se de jamais haver falhado numa previsão.

Caranguejo cultuava Esù, de quem era muito íntimo e com quem dividia, de bom grado, tudo o que recebia na sua função de adivinho. Desta forma, mantinha-se sempre, muito bem informado de tudo o que acontecia, tanto no Aye, quanto no Orun.

Sabemos, com certeza, que era Esù quem sustentava o dom de adivinhar do caranguejo.

Um belo dia, logo pela manhã, Esù foi à casa do amigo para lhe dar, em primeira mão, a grande e tão esperada notícia: no dia seguinte Olodumare, que já não agüentava mais tanta reclamação, distribuiria cabeças entre os animais. Havia, no entanto, um pequeno problema: o número de cabeças existentes não era suficiente para atender a demanda toda e, por este motivo, aqueles que chegassem por último ao Orun, continuariam acéfalos.

“Não contes a ninguém o que te estou revelando. Trata de chegar primeiro e assim poderás escolher a melhor cabeça que estiver disponível. Depois podes espalhar a notícia entre todos”.

Disse Esù ao caranguejo.

Ora, como já sabemos, o caranguejo zelava muito bem por sua fama de adivinho e assim, não se sabe se por força de ofício ou por simples vaidade, logo que Esù foi embora, saiu batendo de porta em porta, espalhando a boa nova e sendo por isto, muito bem recompensado pelos vizinhos.

Atrapalhado com tantos presentes, caminhava cada vez mais lentamente, mas não parou até que o último dos bichos tivesse sido avisado.

Os animais, logo que sabiam da novidade, abandonavam o que quer que estejam fazendo e corriam para o Orun, em cuja porta já se havia formado uma imensa fila.

A confusão era tão grande que filas foram formadas para que a ordem de chegada fosse respeitada, já que alguns retardatários, usando de força, tentavam furar a fila.

Somente depois de voltar à sua casa, onde guardou os presentes que havia recebido em troca da informação, é que o caranguejo, após tomar um bom banho, dispôs-se a ir buscar sua própria cabeça.

Contudo, quando finalmente chegou ao Orun, era tarde demais, não existia mais uma cabeça sequer e, desta forma, por não saber guardar segredo, nosso herói ficou privado de adquirir uma cabeça.

Zangado e decepcionado com a atitude do amigo, Esù negou-se, para sempre, a ajudá-lo no ofício de adivinho e desmoralizado e triste, o caranguejo internou-se no pântano onde vive até hoje enterrado na lama e… Sem cabeça, é claro!

Diante deste Itan, acredito que o maior motivo de todos nós não podermos comer caranguejo, é exatamente porque o caranguejo cometeu um interdito com Èsú, traindo sua confiança

fev
27

OS PRÍNCIPES DO DESTINO – PARTE IX

OITAVA REUNIÃO

O inventor do pilão destrói palácios

Na oitava reunião  contou o príncipe do destino Ejiobê que havia um rei guerreiro de nome Ajagunã. Como ele gostava muito de purê de inhame pilado, ficou mais conhecido pelo nome Oxaguiã, que na língua de seu povo africano quer dizer Papa-Purê-de-Inhame, ou orixá que come inhame pilado, para que a pasta de inhame, sua comida predileta, fosse preparada com mais apuro, ligeireza e perfeição.  O pilão foi um importante marco no progresso da humanidade, que com ele pôde mais facilmente transformar os alimentos,    podendo incluir na alimentação muitas favas, sementes, frutos e batatas, tudo convertido em farinhas, óleos, pastas, grãos sem casca, caldos. Depois do pilão a humanidade criou muitos outros utensílios  que ampliaram sua capacidade de domesticar a natureza e os meios de preparar e diversificar a alimentação  Como moinhos, engenhocas, mecanismos, geringonças, aparelhos, tudo quanto é tipo de instrumento, apetrecho e maquina, sempre em busca do progresso e da perfeição. E tudo começou com Oxaguiã, também chamado Ajagunã.

Ajagunã amava o progresso e a perfeição e declarava ser um construtor, um semeador do desenvolvimento. Um dia, Ajagunã foi à cidade de Ogum em busca de armas que seu aliado, o rei Ferreiro, fabricava para a guerra. Encontrou os súditos de Ogum festejando a conclusão de um palácio novo que tinham construído para seu soberano. Ajagunã perguntou ao povo de Ogum: “Que fazeis agora que o palácio esta feito?”. “Descansamos de nosso feito e festejamos”, responderam eles a Ajagunã,  que retrucou; “Vosso rei esta em guerra e tao cedo não retornara. Aproveitai o tempo e fazei um trabalho melhor. Um palácio mais belo e resistente, do qual Ogum haverá de ainda mais se orgulhar”. E tocou a parede do palácio com sua espada e o palácio ruiu, não sobrou nada. Ajagunã voltou ao seu pais, as suas guerras. Mais tarde, quando retornou a cidade de Ogum, encontrou o palácio completamente refeito, maior, mais imponente, mais bonito.  Ao povo que comemorava com festas a conclusão da nova fortaleza de Ogum, perguntou ao orixá Ajagunã: “Que fazeis agora que o palácio esta feito?”. Responderam eles ao visitante inquiridor: “Descansamos de nosso feito e festejamos”. Em resposta, disse Ajagunã, também chamado de Oxaguiã: “Vosso rei esta em guerra e tao cedo não retornara. Aproveitai o tempo e fazei um trabalho melhor. Um palácio mais belo, confortável e resistente, do qual vosso soberano haverá de ainda mais se orgulhar”. E derrubou de novo o palácio recém-construído. E tantas e tantas vezes isso aconteceu que os habitante daquela cidade se transformaram num povo de exímios construtores. R suas cidade foram ficando mais belas e desenvolvidas que se viam naquele tempo antigo na Africa negra. Porque Ajagunã ama o desenvolvimento e a perfeição e declara ser construtor, um semeador do progresso.

Com tantas construções e desconstruções do palácio de Ogum, os príncipes do destino ficaram com uma fome de pedreiro. E devoraram o banquete de Ifá na oitava reunião de Orum, no qual foi servido, entre outras iguarias, purê de inhame sem sal acompanhado de caracóis fritos na manteiga vegetal, que são os pratos  preferidos do orixá Oxaguiã.

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A continuar….

 

 

fev
27

22 de Março – Dia Mundial da Água

O Dia Mundial da Água é comemorado anualmente em 22 de março como meio para chamar a atenção sobre a importância da água doce e defender a gestão sustentável dos recursos hídricos. Um dia internacional para celebrar a água foi recomendado na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED). A Assembleia das Nações Unidas respondeu ao apelo designando o dia 22 de março de 1993 como o primeiro Dia Mundial da Água.

Cada ano, o Dia Mundial da Água destaca um aspecto específico da água doce.

Água Fonte de Vida!

UNESCO

Site oficial do Ano Internacional de Cooperação pela Água (em inglês)

fev
26

O nascimento de um Rei

Nanã teve uma criança. Tão negra era sua pele que reluzia na luz do céu, parecia uma pequena pérola nos braços de Nanã. Porém tanta pureza era acometida de uma peste, a varíola. Nanã não suportava ver seu filho naquele estado e o levou para a praia, aonde o deixou na beira do mar e se foi. O sangue começou a atrair os caranguejos, que beliscavam sem dó a indefesa criança.

Nesse momento em alto mar Iemanjá penteava seus cabelos, quando ouviu o pranto do inocente. Iemanjá se fez onda para chegar em tamanho desespero. Quando viu, era uma linda criança que ela logo pegou em seus braços. Mas o que fazer com um bebê? Iemanjá vivia no mar e não o podia levar para as profundezas tão novo. Levou-o então para uma gruta, aonde passou a criá-lo alimentando-o com pipoca, já que de tão pequeno não podia comer peixe. Foi também a um babalaô que a mandou cobri-lo com palha da costa para que amenizasse suas feridas. Cresceu, virou rei, feiticeiro e Iemanjá fez questão de levá-lo até Nanã. Ao ver sua mãe de sangue a abraçou com todo o amor que tinha também a Iemanjá, e Nanã fez o mesmo.

Em nenhum momento Obaluaê odiou Nanã pelo seu ato. Nem Iemanjá julgou-a por isso. Nanã é a mãe da Terra e para fazer nascer, para tirar dos domínios da morte ela precisa expulsar do seu reino, da Terra, para a vida. Iemanjá foi a encarregada de cuidar dessa nova vida e guiá-la, afinal é a mãe dos orixás.

Salve o rei da Terra! Atotô!

fev
26

Apetrecho Ritualístico – Pano da Costa

1º Também conhecido como alaká, pano-de-alaká ou pano-de-cuia, o pano-da-costa é de origem africana e compõe a indumentária da roupa de baiana. Seu uso está intimamente ligado ao âmbito das religiões afro-brasileiras e obedece às cores simbólicas dos orixás. Sua denominação faz referência à costa africana, mais precisamente a ocidental, local de origem dos muitos produtos trazidos para o Brasil, especialmente para o recôncavo baiano.
De formato retangular – o tamanho padrão é de dois metros de comprimento por 60 centímetros de largura, é composto de faixas, tecidas em tear horizontal, depois,costuradas manualmente, formando padrões, em geral geométricos e bicolores, que seguem as texturas dos fios de algodão combinados com os de seda, caroá e outros materiais.
Seguindo esses padrões formais, o pano-da-costa – usado sobre um ombro, pendendo uma das pontas sobre o peito e a outra sobre as costas – adquire sua identidade de produto que integra a roupa tradicional de baiana e suas variações sociais e religiosas. Listrado, liso, estampado ou bordado em richelieu ou renda, é por meio dele que a mulher demonstra sua posição hierárquica na organização sócio-religiosa dos terreiros.
Em Salvador/BA, mais precisamente no Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, a tecelagem tradicional do pano-da-costa está ligada ao uso e ao simbolismo sócio-religioso do tecido na composição das roupas rituais do candomblé.

2º Sendo este presença e distintivo do posicionamento feminino nas comunidades religiosas afro-brasileira, o pano-da-costa, não é apenas um complemento da indumentária da mulher; é a marca do sentido religioso nas ações da mulher como iniciada ou dirigente dos terreiros.
Observemos a profunda conotação sócioreligiosa desse simples pedaço de tecido, que atua em tão diversificadas situações, desempenhando papéis dos mais significativos e necessários para a sobrevivencia dos rituais africano.
O pano-da costa é assim chamado por ter sido um tipo de tecido vindo da costa dos escravos, Costa Mina, Costa do Ouro.
O tecido original foi substituido por outros tipos de tecidos, o que não diminui em nada as funções do pano-da-costa.
O pano-da-costa identifica a mulher feita, mesmo que ela não esteja de roupa de santo completa.
A situação do pano-da-costa é de maior importância, se colocarmos a presença da mulher como símbolo do poder sócio religioso e arquétipo dos valores mágicos da fertilidade, isso motivado pelas formas anatômicas características da mulher.
O sentido protetor do pano-da-costa é outro aspecto que merece atenção. As iyawos, ao terminar o período de feitura começam a travar seus primeiros contatos com o mundo exterior protegidas pelo pano-da-costa branco, que representa o prolongamento do Ala de Oxala, envolvendo praticamente todo o seu corpo no grande pano-da-costa, procura manter os valores religiosos de sua feitura quando em contato com os valores profanos encontrados extramuros dos terreiros
Nos sirruns/axexes, a mesma proteção do pano-da-costa, ateado como capa envolvente mágica, aparece guardando as mulheres das presenças de egum.
O pano-da-costa é de uso exclusivo da mulher nos cultos afro-brasileiro, porque uma das principais funções do mesmo é proteger os orgão reprodutores das mulheres, das Yamis, já que as energias emanadas das mesmas prejudicam muito todo o aparelho reprodutor da mulher.
Nos rituais de sirrum/axexe as mulheres usam dois panos-da-costas branco: um protegendo seus ventres e outro sobre os ombros como uma capa que envolve todo o seu colo e seios.
No Rio de Janeiro convencionou-se que o pano-da-costa deve ser usado de acordo com a idade de santo, isto é, só usa preso acima dos seios aquelas que ainda são yaos. Esta errado, pano-da-costa é para ser usado dessa forma mesmo independente da idade de feitura.
De alguns anos para cá os homem aderiram o pano-da-costa, mas nenhum deles até agora explicou o porque de usa-lo e nem podem explicar pois o mesmo é de uso exclusivamente feminino.
Observem que as santas mulheres usam o pano-da-costa, os santos homens usam o pano-da costa amarrados no ombro.
Em algumas casas encontramos abians usando pano da costa, esse procedimento esta errado. As abians ainda não tiveram seus chakras abertos durante uma feitura, portanto as mesmas não necessitam dessa proteção ainda.
Texto: Yatemi Jurema de Oya (in memoriam)

3º No caso das Egbómis, o pano da Costa deve ser colocado na cintura elegantemente ou sobre o peito, jamais deve ser enrolado ou torcido, feito uma faixa ou Ojá, na cintura.
Uma iniciada deve saber usar o pano da Costa, pois este é uma peça do vestuário muito importante. Outro fato relevante é quanto à estampa e cor do tecido. São adequadas as estampas em listras e quadros que lembram as formas presentes na indumentária nigeriana. Quando feitos de tecido liso, devem ser de cores claras: branca, bege, rosa ou azul claro.
Nunca devem ser de cores quentes, berrantes, de seda ou estampados vivos, o que causaria “risos” entre as iniciadas mais antigas.
Pano da Costa na cintura ou no peito é demonstração de trabalho, assim usados no barracão, quando em função religiosa.Caso contrário, no dia-a-dia do terreiro pode ser “jogado” sobre o ombro direito e se mantém esticado ao longo do tronco. Não se “dança” sem esta peça da indumentária.
Mesmo fora do trabalho, para visita ou passeio o seu uso é indispensável. Em casas tradicionais, quando uma iniciada chega sem o pano da Costa é comum a proprietária do terreiro emprestar um à visitante, que, em sinal de educação ou respeito, coloca-o sobre o ombro direito ou, se entrar na roda, usa-o de maneira adequada à sua posição dentro da hierarquia do Candomblé;
O pano da Costa é a peça de maior significado histórico dentro do vestuário africano, em conjunto com o torso. O uso de saia, Camisu ou bata e pano da Costa são indispensáveis dentro do Axé… A maneira de amarrar, colocar ou “enrolar” o pano varia de acordo com a situação, o ritual desenvolvido ou a posição hierárquica;
Iyáwô não usa o pano na cintura, mas sim enrolado no peito.
(Parte do livro Sobre o Signo de Omolu – Samuel Abrantes)

4º Pano da Costa é a redução do termo “Pano da Costa do Santo”, e referia-se aos panos de adorno, espécie de xales longos, que integravam o traje típico das africanas e das crioulas da Bahia.
Chamam-se panos da costa, aos tecidos artesanais de origem africana. Tais como os demais produtos importados da África,sabão da Costa, limo da Costa, búzio da Costa, e que tinham uso popular, são conhecidos pelo adjetivo “da Costa”, muito embora a origem de alguns deles seja vária e ainda controversa.
A princípio esta denominação estendia-se a todos os tecidos importados da África, qualquer que fosse a sua aplicação; o uso lhe foi restringindo o campo até a limitação ao xale. O pano da Costa é, portanto, uma peça de vestimenta tecida de algodão, lã, seda ou ráfia — às vezes em dupla associação desses elementos — que a crioula baiana deita sobre pontos diversos das suas vestes, às vezes, ajustando-o ao corpo em formas convencionais e relativas às diferentes funções que se apresta a desempenhar momentaneamente.

5º É, em suma, um xale retangular, cuja disposição informa ao que vai a sua portadora.
É usado de várias formas: sobre as costas, jogados sobre os ombros, usados a tiracolo, cruzados na frente, amarrados sobreo o busto ou na cintura, sobre as saias.
Tem uma variedade infinda, seja nas cores ou nas padronagens.
A África negra tem uma longa tradição textil, onde a variedade de materiais é tão grande quanto os estilos encontrados. Utilizados como roupa, os tecidos serviram também de moeda, foram utilizados como mensageiros e objetos estéticos.
Diz-se com frequência que os Africanos eram mais escultores que pintores : os tecidos podem ser considerados, na África, substitutos da pintura.
Os primeiros “tecidos” foram realizados com casca de árvore batida; muito difundidos antigamente numa grande parte do continente, eles são encontrados atualmente sobretudo nas populações da África central, onde são, na maioria das vezes, decorados com tintas vegetais.
A tecelagem só foi desenvolvida bem mais tarde, a partir do século 11, mesmo se tecidos ricamente trabalhados já eram importados dos países da África do norte, do Egito e da península arábica para vestir as populações das grandes cidades portuárias das costas orientais assim como os membros das classes nobres dos reinos do deserto do Sahel.
Nesta mesma época, a expansão do islã, introduzindo novos códigos vestimentários, desempenhou um papel importante no desenvolvido que sofreram os tecidos, sobretudo na África ocidental.
Os tecidos de fabricação local constituíram durante muito tempo bens raros e preciosos; marcas de poder e de riqueza, reservados a uma elite, eles foram integrados como moeda para troca, graças aos quais era possível estimar o preço de uma mercadoria e comprá-la.
Desde sua chegada nas costas do continente, no século 15, os traficantes europeus exploraram as possibilidades comerciais que ofereciam esta nova “moeda” e encorajaram indiretamente a produção textil local devido à sua utilização.
A quantidade de tecidos detidos por cada família foi considerada durante muito tempo uma marca de riqueza e de poder em muitas sociedades africanas.
Nas regiões onde o islã se instalou, como em todas as outras regiões onde o tecido se transforma em hábito vestimentar, a metragem e o peso do produto são proporcionais à fortuna e ao poder daquele que os possui: se este faz parte das pessoas influentes da comunidade, chefe político ou grande comerciante, sua numerosa corte que o segue quando ele sai deve ser como ele, enrolada em abundantes tecidos.
O poder se mede também na possibilidade de dispor de seus bens e de distribui-los e, entre eles, os tecidos constituem presentes excepcionais.
Dar tecidos como presente possibilita a solução de inúmeros conflitos e libera as tensões. Esses presentes são feitos em momentos importantes da vida de cada um (maioridade, casamento, nascimento dos filhos).
A ascensão social ou religiosa ou o pagamento de serviços não pode acontecer sem a distribuição de tecidos. Para manter boas relações com a família, os amigos, os vizinhos, para ser admitido numa seita, cada pessoa é incitada a dar tecidos e a recebê-los.
A posse de uma grande quantidade de tecidos aumenta o prestígio do seu proprietário, o que lhe possibilita uma maior participação na vida comunitária, onde o princípio da dívida é a base de toda relação social e econômica.
Mas o tecido não é somente moeda ou roupa: ele representa também, de acordo com seu estampado, uma espécie de texto onde podem ser “lidas” a identidade social e religiosa daquele que o usa: a decoração, seja ela impressa, tingida, pintada, tecida ou costurada, representa os espaços, os objetos, os seres e as metamorfososes presentes na mitologia.
Por este motivo, os tecidos têm um papel importante na vida ritual: os mortos, mesmo no seio de sociedades que não possuem tecelões, são vestidos ou envolvidos em tecidos, tornando-se assim protegidos pela palavra dos vivos.

fev
23

OS PRÍNCIPES DO DESTINO – PARTE VIII

SÉTIMA REUNIÃO

O guerreiro toma o poder das mulheres

Hoje quem manda no mundo são os homens e as mulheres tem lutado e continuam lutando muito para conquistar a independência  para garantir seus direitos e ter as mesmas oportunidades que os homens. Mas o mundo não foi sempre assim. Na sétima visita dos dezesseis príncipes do destino ao palácio de Ifá, no Céu dos orixás, os príncipes Ejiologbom e Odi relembraram uma historia que foi muito festejada por todos os odus, que apreciaram muito o seu desfecho.

No começo quem mandava no mundo eram as mulheres e os homens eram a elas totalmente submissos. Eram elas que faziam a politica e decidiam o destino do mundo e da humanidade. Elas eram fortes, os homens eram fracos. Elas mandavam, eles obedeciam. Elas falavam alto, eles se curvavam.

Mas os homens eram muito curiosos e viviam inventando e descobrindo coisas. Ogum era um caçador que vivia na aldeia de Irê. Ele ensinou a arte da caça a seu irmão Oxossi, que foi viver na cidade de Ketu, onde se tornou um caçador muito famoso por  ter matado o pássaro agourento de uma terrível feiticeira. Um dia Ogum descobriu como usar o ferro e com ele fabricar muitos instrumentos que tornavam menos difícil a sobrevivência dos humanos. e na sua forja ele fabricava enxadas e enxadões, picaretas e ancinhos, facas e facões  tudo o que era preciso para caçar e para cultivar a terra e assim mais fartamente poder alimentar o povo. E os homens se transformaram em agricultores e o trabalho na terra deu força a eles, deu-lhes músculos de ferro.

Mais que isso descobriu Ogum. Descobriu que os objetos de ferro que ele fabricava tinha o poder de ajudar o homem a produzir bens, a plantar, a colher, a caçar, como vimos. Mas assim como a lamina de ferro matava o bicho, o bicho que o homem caçava para dar de comer aos filhos, a lamina de ferro também matava o homem. E o homem inventou a guerra e usou a espada de Ogum para dominar seu semelhante. Porque tudo na vida tem um lado bom e tem também um lado ruim. E os homens se transformaram em guerreiros e a guerra deu mais força ainda a eles, deu-lhes músculos de ferro, deu-lhes nervos de aço.

Os homens se sentiam então muito poderosos, mas as mulheres, pela tradição  ainda os dominava. Naquele tempo de tantas transformações  as mulheres eram governadas por Iansã, guerreira destemida que conhecia o segredo do fogo e sabia como botar labaredas pela boca. Um dia os homens decidiram tomar para si o poder e escolheram Ogum para enfrentar Iansã e tomar para si o domínio que as mulheres controlavam. Ogum, o Guerreiro, aceitou a missão e se vestiu co suas férreas armaduras de combate, couraça, capacete e caneleiras, e se armou de escudo, espada e lança.

Homens e mulheres viviam em mundos separados e não havia confiança nem solidariedade entre eles. As mulheres sempre se reuniam com Iansã numa clareira e ali passavam horas e horas falando mal de seus maridos e se divertindo com os castigos que a eles infligiam. ali elas planejavam como assustar seus esposos, sempre que eles ameaçavam o poder feminino. Ejiologbom não soube explicar direito, mas disse que as mulheres chefiadas por Iansã tinham um macaco vestido de gente que assustava os homens, fazendo caretas e cenas admiráveis.

Pois la estavam elas a conversar e a rir na clareira quando Ogum surgiu do meio do mato vestido para guerra. A aparência do guerreiro era assustadora, pois não ha neste mundo uma só pessoa que seja capaz de encarar a guerra de frente sem temer. Em panico, as mulheres se puseram de pé e se dispersaram numa desordenada correria, fugindo em busca de proteção  Muitas correram tanto que nunca mais foram vistas por ninguém  Outras foram viver com os homens dos quais receberam abrigo e proteção  Iansã tentou resistir e foi vencida por Ogum. Mas ele não usou a espada contra Iansã, ele se casou com ela. Quando Ogum foi feito rei, ele fez de Iansã sua rainha. Desde então o poder pertenceu aos homens. Mas sempre que Ogum saia para a guerra ele levava Iansã junto com ele.

Todos os homens gostam muito dessa historia. Naquele dia, na casa celeste de Ifá, os odus aplaudiram com frenesi a fala de Ejiologbom e Odi. E Ifá, que também é parte do gênero masculino, mandou servir no fim da sétima reunião um banquete muito mais sortido e caprichado.

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A continuar….

 

fev
23

OS PRÍNCIPES DO DESTINO – PARTE VII

SEXTA REUNIAO

O miserável que acabou ficando rico

Ninguém era mais pobre que Babatogum, mas também ninguém era mais atrevido do que ele. Quando os príncipes do destino se juntaram na casa de Ifá para seu sexto encontro, contou o príncipe Icá, assistido pelo príncipe Obará, que Babatogum, sem razão aparente, um dia pôs se a andar pela praça da cidade feito um desvairado, falando mal de todas as pessoas respeitáveis do lugar. Dizia que ninguém era capaz de nenhum gesto digno. Que eram todos, no fundo, fracos e incapazes. Proclamava que muitos tinham dinheiro, sim, mas que ninguém tinha poder suficiente nem para mudar a vida de um mendigo. Ridicularizava todo mundo, não poupando ninguém.

Babatogum havia gastado suas minguadas economias, que juntara de esmolas e ajutórios que lhe davam, e comprado galinha, inhame, cebola, pimenta e dendê para fazer um guizado delicioso que oferecera a Exu,o Mensageiro, pedindo sua ajuda e proteção  Sabia que Exu sempre socorria os que lhe fazia oferendas. Ainda mais com uma comida deliciosa como aquela! Então  quando o mais rico dos senhores daquela terra passou pela praça a caminho do palácio real, Exu o chamou e disse que prestasse atenção nas coisas que o pobretão estava dizendo a todos, pois o que ele dizia respingava na honra do rico senhor.

Babatogum estava no auge de seu discurso. Quando viu o milionário se aproximar, Babatogum apontou-o com o dedo em riste e começou a chama-lo de inútil e incompetente. O homem rico mandou que o pobre se calasse. Onde ja se viu um joao-ninguém desfeitear daquele jeito um homem rico e poderoso? “Que homem rico e poderoso? Não vejo nenhum aqui”, retrucou com desdém Babatogum. “Não”, ele gritava, “ninguém é poderoso como pensa que é.” O milionário ficou muito magoado, pois se considerava alguém de muita importância  capaz de alterar ate mesmo os destinos do reino. Sua vaidade estava ferida. Então Exu cochichou alguma coisa no ouvido do ricaço e o homem rico disse com autoridade ao mendigo: “Vou te dar provas de meu poder, sim, senhor. Vou te mostrar meu prestigio e minha importância. Vou fazer-te milionário como eu”. Pegou Babatogum pelo braço e pôs se a passear com ele pela praça. O homem pobre e o homem rico, de braços dados. Todo mundo que passava via e ficava impressionado. Se o homem que passeava com o milionário era tao seu amigo, ele so podia ser alguém igualmente rico e importante. No final da tarde, o homem rico despediu-se, dizendo a Babatogum que sua vida ia mudar bem cedo, por conta do prestigio que ele lhe transmitira. Então vieram muitos banqueiros e comerciantes e ofereceram credito para Babatogum expandir seus negócios  Muitos homens de dinheiro quiseram fazer sociedade com ele. E negocio aqui, negocio ali, Babatogum acabou sendo o súdito mais poderoso do reino, o mais rico de todos os homens daquela paragens.

Exu acompanhou tudo de longe e adorou o final. Quando voltava de suas intermináveis viagens, levando encomendas e trazendo recados, sempre passava pela encruzilhada para comer as oferendas deliciosas que o grato Babatogum a ele destinava.

Como essa historia de Icá e Obará terminou em comida, os dezesseis príncipes do destino, esfomeados, mais do que depressa passaram à sala dos banquetes na casa de Ifá, no Orum.

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A continuar….

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OS PRÍNCIPES DO DESTINO – PARTE VI

QUINTA REUNIÃO

A mãe do rio exige o pagamento da promessa

Um rei guerreiro avançava rumo à guerra, quando viu seu caminho impedido por um rio de águas revoltas. O rei se dirigiu às águas  com humildade e respeito, e pediu q a agitação da corrente se acalmasse para que pudesse atravessar o rio com seus exércitos  Prometeu trazer preciosa oferenda para Oxum, a mãe do rio, o espirito que habitava aquelas águas revoltas. Oxum e aceitou a oferta do guerreiro e serenou suas águas turbulentas. O rei atravessou o rio a vau com seus homens, enfrentou seus inimigos e venceu a guerra. O rei mandou entregar então preciosos presentes para Oxum: Arcas repletas de objetos de ouro e cobre, inigualáveis vestes de tecidos dourados do Oriente, colares de diamantes, perolas e búzios da costa, comidas e bebidas saborosíssimas. Mas Oxum não ficou satisfeita com as dádivas do rei.  Ela queria Preciosa, a princesa. Era assim que se chamava a filha do rei: Preciosa. Foi este presente que Oxum entendeu que o soberano lhe daria. Ele dissera exatamente: preciosa recompensa. Pois então  Oxum queria Preciosa, a princesa. Quando o rei teve que atravessar de volta o rio, mais enfurecidas estavam as corredeiras de Oxum. E o rei não teve outra saída  Para poder voltar ao seu país e ao seu povo, que dele tanto precisava e dependia, ele teve que entregar Preciosa à mãe do rio. Se não, não passaria. Oxum criou a menina e fez dela a mais bela cachoeira que se pode encontrar em todo o reino das águas doces de Oxum.

Foi uma das mais belas historias de Oxé contadas na quinta reunião dos odus na casa de Ifá.

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