jul
21

ESU

A palavra “Exu” significa, em ioruba, “esfera”, aquilo que é infinito, que não tem começo nem fim. Exu é o principio de tudo, a força da criação, o nascimento, o equilíbrio negativo do Universo, o que não quer dizer coisa ruim. Exu é a célula mater de geração da vida, o que gera o infinito, infinita vezes.

É considerado o primeiro, o primogênito; responsável e grande mestre dos caminhos; o que permite a passagem o inicio de tudo. Exu é a força natural viva que fomenta o crescimento. É o primeiro passo em tudo. É o gerador do que existe, do que existiu e do que ainda vai existir.

Exu está presente, mais que em tudo e todos, na concepção global da existência. É a capacidade dinâmica de tudo que tem vida. Principalmente dos seres humanos que carregam, em seu plexo, o elemento dinâmico denominado Exu.

É aquilo que no candomblé chamamos de Bára, ou seja, “no corpo”, preso a ele. É o que nos dá capacidade de agir, andar, refletir, idealizar. Sem o elemento Bára, a vida sadia é impossível. Sem ele, o homem seria excepcional, retardado, impossível de coordenar e determinar suas próprias atitudes e caminhos de vida.

Realmente, Exu está presente em tudo. E damos como exemplo inicial a concepção da geração da vida. O membro ereto do macho tem a presença de Exu- aliás, em terras da África, o membro rijo é o símbolo da vida, o símbolo de Exu – ; a penetração na fêmea, tema a regência de Exu; a ejaculação é coordenada por Exu; o percurso do espermatozoide dentro da fêmea, é regido por Exu; também na fecundação do óvulo Exu está presente. E quando a primeira célula da vida esta formada, a presença de Exu se faz necessária. Já na multiplicação da célula, a regência passa por Oxum, que vai reger o feto até o nascimento.

Exu também está presente no calor, no fogo, na quentura. Presente se faz nos lugares poucos arejados, nos lugares onde existem multidões, nos ambientes fechados e cheios.

Exu está na alteração do ânimo, na discussão, na divergência, no nervosismo. Está presente no medo, no pavor, na falta de controle do ser humano. Também está perto na gargalhada, no riso farto, na alegria incontida. Para nós brasileiros, amantes do futebol, Exu está presente no grito de “gol”, que soltamos de forma feliz e nervosa. É o desprendimento do nervosismo contido no peito.

Exu é a velocidade, a rapidez do deslocamento. É a bagunça generalizada e o silêncio completo. Diz-se que Exu é a contradição. É o sim e o não; o ser e o não ser. Exu é a confusão de ideias que temos. É a invenção, descoberta. Exu é o namoro, é o desejo, é o sentimento de paixão desenfreado e é também o desprezo. Exu é a voz, o grito, a comunicação. É a indignação e a resignação. É a confusão dos conceitos básicos. Aquele que ludibria, engana, e confunde; mas também ajuda, dá caminhos, soluciona. É aquele que traz dor e a felicidade.

Para se ter uma noção do comportamento e da regência paradoxal de Exu, cito um de seus Orikis (versos sarados), que diz;

“ Exu matou um pássaro ontem, com a pedra que jogou hoje”

Assim, pode-se ter uma ideia exata de quem Exu é, como é, e como rege as coisas. Ele esta presente em tudo….. em nada.

Exu esta presente no consumo de substâncias tóxicas, no álcool, na droga, no fumo. Ele é o sólido, o liquido e o gasoso. Está nas conversas de esquinas, de bares, de restaurantes, de praças. Está na aceitação ou recusa de qualquer coisa.

Está presente também nas refeições, pois ele é quem rege o ato de mastigar e engolir. A gula é atributo de Exu. Está no coito, no prazer sexual, na preguiça; mas também está presente na disposição, na energia, sem querer com isso carregar peso, pois Exu não gosta de carregar peso. Outro Oriki fala claramente sobre esta sua particularidade:

“ Xonxô obé, odara kolori erú”

“ A lâmina (sobre a cabeça) é afiada; ele não tem cabeça para carregar fardos”

Exu é tudo isso e mais. Fogo é o seu elemento, mas a Terra e o Ar são bem conhecidos de Exu. É a presença constante!

Mitologia

Exu é filho de Iemanjá e irmão de Ogun e Oxossi. Dos três é o mais agitado, capcioso, inteligente, inventivo, preguiçoso e alegre. É aquele que inventa historias, cria casos e o que tentou violar a própria mãe.

Numa de suas muitas histórias, podemos entender exatamente suas capacidade inventiva, sua conduta maquiavélica e sua maneira pratica de resolver seus assuntos e saciar seus desejos.

Conta-se que dois grandes amigos tinham cada um deles, um pedaço de terra, divididos por uma cerca. Diariamente os dois iam trabalhar, capinando e revirando a terra, para plantio. Exu, interessado nas terras, fez a proposta para adquiri-las, o que foi negado pelos agricultores. Aborrecido, mas determinado a possuir aqueles dois terrenos, Exu procurou agir. Colocou na cerca um boné. De um lado branco, de outro vermelho. Naquela manhã, os amigos lavradores chegaram cedo para trabalhar a terra e viram o boné na cerca. Um deles via o lado branco e outro o lado vermelho.

Em dado momento, um dos amigos pergunto: – “O que este boné branco faz em minha cerca?” Ao que o outro retrucou: – “Branco? Mas, o boné é vermelho!”

– Não, não, amigo. O boné é branco, como algodão!

– Não, não é mesmo! É vermelho como o sangue!

– Não sei como você pode ver vermelho, se é branco, está louco?

– Não, o louco é você, que vê branco, se a coisa é vermelha!

Bem, daí desencadeou-se a maior discussão, até chegarem à luta corporal. E com as mesmas ferramentas de trabalho, mataram-se.

Exu, que de longe assistiu a tudo, esperando o desfecho já imaginado por ele, aproximou-se e assumiu a posse das terras, não sem antes fazer um comentário, bem ao seu estilo:

– Mas que gentes confusas, que não consegue solucionar problemas tão simples!

Esse é o tipo de Exu!

Não quero passar a impressão de que se trata de uma coisa ruim, má, mas Exu é nosso próprio interior, é a nossa intimidade, o nosso poder de ser bom ou mau, de acordo, com nossa própria vontade. Exu é o ponto mais obscuro do ser humano e é, ao mesmo tempo, aquilo que existe de mais óbvio e claro.

Assim é Exu, Senhor dos caminhos, pai da verdade e da mentira. O Deus da contradição, do calor, das estradas, do princípio ativo de vida. O mestre de tudo… e nada!

Dados

Dia: Segunda Feira

Data: Não existe especificamente, pois todos os dias são de Exu.

Metal: Não tem, sua matéria é a terra, pois nasceu da terra em forma de pênis.

Cor: Preto e Vermelho

Partes do Corpo: Sensações de sede e de fome, cavidade do Ori (cabeça), cavidade do útero, atividade sexual (não da atividade procriadora, da fecundação, pois ele é o resultado, o descendente), placenta fecundada, os pés (bola dos pés), uma parte do fígado (a outra é de Oya).

Comida: Sangue de bode, galos, galinhas, farofa de azeite de dendê, carnes mal passadas, pimenta e bebidas alcoólicas.

Arquétipos: magros, altos, sorridentes, extrovertidos demais, alegres, ambiciosos, com fé na vida, esperançosos para melhorar, positivo.

Símbolos: Ogo (bastão cheio de tranças de palha numa ponta com cabaças dependuradas, nas quais ele traz suas bebidas. O Ogo é todo enfeitado de búzios).

jul
20

O que é ser abikú?

Os Abíkú são na verdade, espíritos que provocam a morte das crianças em que estejam encarnados, ou seja, que provocam a própria morte. A palavra de origem yoruba pode ser literalmente traduzida como: “Nós nascemos para morrer”.

A ação do Abíkú encarnando-se sucessivas vezes em crianças geradas por uma mesma mulher e provocando sua morte durante a fase de gestação, ou logo após o nascimento, mas sempre antes dos nove anos de idade, é tida e havida como uma verdadeira maldição.

Sabemos que o espírito, já em estágio de adiantada evolução, buscando acelerar ainda mais o processo, provoca esse tipo de fenômeno que, se do ponto de vista espiritual pode ser considerado benéfico, do ponto de vista material é visto como uma desgraça que se abate sobre uma família, determinando dor e luto constantes.

Os espíritos Abíkú formam um grupo denominado Egbe Orun Abíkú, que habita no mundo paralelo que nos rodeia, o Orun, morada dos deuses e dos antepassados.

No Orun, termo que pode ser corretamente traduzido para céu, este grupo de espíritos dividem-se em categorias, de acordo com o sexo, sendo que os pertencentes ao sexo masculino são chefiados por Oloiko (Chefe do grupo) e os de sexo feminino, por Iyajanjasa (A Mãe que bate e corre).

Na sua vinda do Orun para o aiye (terra), os espíritos, também conhecidos como Emere, estabelecem um pacto com Onibode Orun, o guardião dos portais do Orun, condicionando sua permanência, no nosso mundo, a determinadas exigências.

Através do pacto formalizado, alguns destes espíritos determinam-se simplesmente, não nascer, enquanto outros, determinados a voltar logo após seu nascimento, morrem subitamente, quer seja por acidente, quer seja por doença, assim que rompa seu primeiro dente.

Todos os Abíkú são considerados espíritos infantis e possuem companheiros ou amiguinhos mais chegados, com os quais costumam brincar no Orun. Logo que uma destas crianças nasce, seu par começa a interferir na sua vida terrena, aparecendo-lhe em sonhos ou atormentando-o de diversas formas, para que não se esqueça do compromisso assumido, e que retorne, o mais rapidamente possível, ao seu convívio.

Segundo a lenda, os que vieram à terra, pela primeira vez, na localidade denominada Awaiye, trazidos por Alawaiye, rei de Awaiye e seu chefe no Orun. O grupo era formado por 280 espíritos que, parando no portal do céu, fizeram diversos pactos, condicionando seu retorno a diferentes situações, que variavam de acordo com a escolha de cada um. Desta forma, alguns estabeleceram a data de sua morte para depois que vissem, pela primeira vez, o rosto de suas mães; outros, para quando completassem sete dias de nascidos; outros ainda, para quando começassem a andar; alguns, para quando ganhassem um irmão mais novo; outros, para quando se casassem ou construíssem uma casa. Aqueles que nascessem comprometiam-se a não aceitar o amor de seus pais e, todos os presentes e agrados recebidos, seriam inúteis para retê-los na Terra, ao passo que alguns, se comprometeram, simplesmente, a provocarem seus próprios abortos, não chegando sequer a nascer. Estabeleceram ainda que, se seus pais adivinhassem seus rituais, roupas e oferendas, e, se em tempo hábil os oferecessem, concordariam em permanecer neste mundo.

Determinaram ainda entre si um ritual no qual, roupas, chapéus e turbantes tingidos de osun, com valor simbólico de 1.400 cawrís, deveriam ser pendurados nas árvores de um bosque especialmente consagrado para seu culto. Folhas sagradas deveriam ser friccionadas em seus corpinhos já tingidos de osun, shaworos seriam colocados em seus tornozelos, pequenas incisões seriam feitas em seus corpos, e, através delas, pós mágicos de diversas folhas, seriam inseridos como proteção. Com os mesmos pós, seriam confeccionados amuletos de couro, denominados ondê, que deveriam ser presos às suas cinturas. Alguns deles deveriam levar nos tornozelos, argolas e correntes de ferro, para evitar que fugissem para o Orun e, suas oferendas, conforme determinariam os Itan Ifá, seriam compostas de cabras, pombos, galos, doces, diversos tipos de cereais, bebidas e guizos, que deveriam ser entregues no bosque sagrado, soltas nas águas de um rio, ou enterradas em suas margens. Somente assim, concordariam em permanecer sobre a Terra.

Apesar disto, se Iyajanjasa ou Oloiko insistissem em levar alguns deles de volta para o Orun, seus corpos sem vida deveriam ser marcados com escarificações, queimaduras ou mutilações, para que seus colegas do Orun, não os reconhecendo, se negassem a aceitá-los no egbe. As mesmas marcas, reaparecendo nos corpos que tomassem para renascer, serviriam para que pudessem ser identificados e, imediatamente, submetidos aos procedimentos mágicos que fariam com que prolongassem suas vidas.

Segundo as tradições, o Ipori ao atingir elevado estágio de evolução, costuma reunir-se em grupos, aguardando em copas de determinadas árvores consideradas sagradas, situadas em trilhas existentes em alguns bosques. A passagem de uma mulher de “corpo aberto”, ou seja, em fase de menstruação, é por ele esperada para que, através dessa “abertura”, possa estabelecer-se em seu interior, aguardando ali, que ocorra a fecundação, quando então, aloja-se no embrião, dando início a uma nova encarnação que poderá ser interrompida antes do total desenvolvimento do feto, ou num período de nove anos após o nascimento, conforme seja o seu plano de mais rapidamente processar sua evolução.

A ocorrência de abortos sucessivos, ou a morte dos filhos ainda pequenos, configuram-se como sintomas da presença de um Abíkú e, contatada essa presença, a mulher afetada deve submeter-se a um complexo tratamento espiritual, tendo que reunir-se a um grupo denominado Egbe Obá, onde é praticado um culto específico a Abíkú.

Como parte integrante do Egbe Obá, a mulher passa por uma série de procedimentos ritualísticos que visam garantir o nascimento de seu próximo filho, não por intermédio da expulsão do Abíkú alojado em seu corpo, mas através de sua concordância do mesmo em nascer e continuar vivendo no corpo em gestação, por um período correspondente à média normal de vida humana.

Um babalawo, especialista no trato com, indica o ebó que irá garantir o nascimento com vida do próximo filho da mulher em questão, mantendo-o vivo, retendo-o sobre a Terra e rompendo, definitivamente, sua ligação com o Orun.

Iniciado o tratamento espiritual, a mulher tem o corpo, principalmente o abdome, esfregado com folhas sagradas, toma banhos e chás das mesmas folhas e passa a cuidar de uma entidade feminina chamada Egbe Eleriko, que atormenta as crianças durante o sono, produzindo marcas e ferimentos superficiais em seus corpos.

Um assentamento de Egbe Eleriko é feito em sua casa, onde, anualmente, serão oferecidos sacrifícios de animais, com toques, cânticos e danças ritualística.

Esta entidade tem que ser cultuada permanentemente e, a cada cinco dias, cabaças com oferendas lhe é oferecida num rio.

Dentro destas cabaças são colocados ovos, obís, favas bejerekun, akasá, bananas, doces, inhame, acarajés, cana-de-açúcar e penas ekodidé, tudo em número de seis. A cabaça é fechada e, depois de colocada dentro de um saco, é entregue nas águas de um rio, acompanhada de rezas

Apesar de atormentar as crianças, Egbe Eleriku tem o poder de dar filhos e fortuna às mulheres que a cultuam e nem todas as crianças são por ela perseguidas.

Um oriki de Egbe Eleriko, recolhido em Ibadan, demonstra a ligação acima referida, e serve como uma súplica feita pelas mulheres que, sob sua proteção, desejam filhos sadios e livres da praga.

Um procedimento muito usado para constatar a presença do Abíkú, no caso de falecimento de uma criança de menos de nove anos, faz parte de um ritual durante o qual, o cadáver do pequenino, depois de lavado com infusões de ervas sagradas, é marcado com cortes superficiais em diversas partes do corpo, feitos com afiadas lâminas de aço. Através destas escarificações são introduzidos alguns tipos de pós obtidos da moagem de elementos naturais, considerados mágicos. Cortes mais profundos são feitos no alto da cabeça e o lóbulo de uma das orelhas é extirpado. Um guizo de ferro fornecido pelo Egbe Obá é atado ao tornozelo do cadáver que, só então, receberá sepultura.

A próxima criança gerada pela mãe do falecido, se apresentar uma das marcas feitas no cadáver de seu irmão, se possuir lóbulo duplo ou bipartido numa das orelhas, ou ainda, se possuir um sexto dedo num dos pés ou mãos, estará caracterizando a presença do Abíkú, devendo ser imediatamente submetida aos rituais que lhe preservarão a vida e que, da mesma forma que os procedimentos relativos ao cadáver de seu falecido irmão, só podem ser ministrados por um sacerdote do culto de Ifá, Babalawo consagrado e especializado neste tipo de ritual.

Assegurado o nascimento da criança, e tendo esta efetivamente nascida com vida, deverá então ser submetida aos rituais propiciatórios, para que o espírito permaneça naquele corpo, com a garantia de que será aquela a sua última encarnação.

Um ebó será preparado, com um pedaço de tronco de bananeira vestido com roupas e gorros tingidos de osun e bordados de búzios e guizos. Pendura-se tudo nos galhos de uma árvore e, no chão, arria-se, ao redor do tronco, pratos ou alguidares de barro contendo inhame, acarajé, ekurú, akasá, canjica, doces, frutas, bebidas, folhas ritualísticas, tudo bem coberto com mel de abelhas. Uma cabra, um pombo e um galo são sacrificados e arriados no local, onde permanecerão por algum tempo. Depois, embrulham-se os corpos dos animais sacrificados num pano branco, cobre-se com bastante pó de efun, amarra-se e enterra-se nas margens de um rio, ou despacha-se nas águas, de acordo com a orientação obtida através do oráculo.

Na confecção do ebó, não são utilizadas rezas ou cânticos, sendo exigida, isto sim, a presença dos pais do Abíkú, que deverão saber o objetivo do ebó. As mesmas folhas oferecidas no sacrifício serão utilizadas em banhos e na confecção de pós mágicos que serão esfregados nas incisões do Abíkú e na preparação do amuleto ondê, que deverá acompanhá-lo pelo resto da vida. As folhas têm que ser consagradas antes de sua utilização e, para isso, possuem ofós específicos, que ressaltam suas qualidades e funções.

Formalizado o pacto, a criança viverá normalmente, como qualquer ser humano, só devendo morrer em idade bastante avançada. Acredita-se que os seres humanos dotados de espírito Abíkú, talvez pelo alto grau de evolução de seu Ipori, são dotados de muita inteligência e, no decorrer de suas vidas, transforma-se em verdadeiros líderes, dedicados ao bem estar de sua comunidade e principalmente dos seus familiares.

Às crianças Abíkú que conseguem sobreviver, são dados nomes específicos que fazem referência à sua especial condição de nascimento. Isto deverá ocorrer sempre, no sétimo dia depois de seu nascimento – se for menina, ou no nono dia – se for menino. No caso de gêmeos, os nomes serão dados no oitavo dia após o nascimento. Esta festividade que comporta um ritual é denominada Ikomojade, e tem por finalidade principal, dar aos Abíkús, nomes que desestimulem sua volta ao Orun, alguns dos quais, com seus respectivos significados em português, relacionamos em seguida:

 

Malómo – não vá embora novamente

Kosokó – não existe mais terra- a terra acabou

Banjokô – sente-se e fique comigo

Durosimi – espere para me enterrar quando eu morrer

Jekiniyin – permita que eu tenha um pouco de respeito

Akisotan – não existe mais mortalha para o sepultamento

Apara – aquele que vai e vem

Okú – o morto

Igbe Koyi – nem a floresta quer você- a selva rejeita essa criança

Enú- Kún-Onipê – o consolador está cansado

Tijú-Icú – envergonhe-se de morrer

Buro-Orí-Iké – fica, espere e veja como serás mimado

Aiye Dun – a vida é doce

Aiye Lagbé – ficamos no mundo

Age Igba – que a riqueza não se perca

Ajuki – o morto viverá

Apaara – frequenta minha casa

Ayomu mo – vai pra o céu e volta

Bajoko – senta-se ao meu lado

Duro – me atende e fica

Duro Joyé – continua a gozar a vida

Sinmi – é difícil ficar enterrado

Shome – difícil fazer as crianças permanecer

Toyé – se ficares, receberás homenagens

Wojú – difícil olhar para os meus olhos

Ebe Loko – implora pra ficar

Ení Lolobo – alguém partiu e voltou

Inu Kuno naipe – estou cansado (a) de receber pêsames

Ikú Faryin – a morte perdoa

Iletan – está acabado

Kike – indulgente

Kaje Yu – não é aceito pra morrer

Kokun – não morras mais

Koni Bi Re – não vai lá

Kosile – não vai enterrar mais

Ifari – chamemo-lhes

Kosoko – não vai cruzar o túmulo

Kumipayi – Kuti – a morte não mata mais este aqui

Maku – não morre mais

Matnami – não larga mais a vida

Obi Mesan – não vingarás

Ikú Okura – a morte é apenas um nome

Oku se Hiyn – o morto que retorna

Amatunde – o menino que retorna

Orun Kun – o céu está cheio

Ratini – suporta-me

Tomi Mowo – quem sabe como cuidar

Tijuiko – vergonha da morte

Jekin-niyin – me dá seu preço

Akuji – o que está morto, desperta

Omotundé – a criança voltou.

 

Como se vê, os nomes abíkú renegam a morte e a possibilidade de retorno ao Egbe Orun. Ressaltam a vida e o quanto é bom desfrutar das coisas existentes sobre a Terra, principalmente o amor dos pais e irmãos. Estas crianças devem ser chamadas, sempre, por estes nomes, o que ajuda o rompimento definitivo do seu vínculo com o grupo Emeré.

Periodicamente oferecem-se comidas ritualísticas às crianças Abíkú, o que acontece, invariavelmente, por ocasião de seus aniversários natalícios, produzidas principalmente, com feijões e óleo de palma. Acredita-se que durante estes festivais, os espíritos Abíkú se apresentam e, ao participarem do evento, são apaziguados.

A noção do Abíkú existe em quase toda a África negra, variando apenas na forma de tratamento deste fenômeno. Vários povos mantêm a mesma crença, embora dêem a eles, nomes diferentes. Os igbos os chamam de ogbanje, eze-nwany, agwu ou ainda, iyi-uwa-ogbanje. Entre os nupe, são conhecidos como kuchi ou gayakpeama. Os fanti os conhecem pelo nome de kossamah, os akan pelo nome de awomawu, e os haussa chamam-nos de danwabi ou kyauta.

Também entre os povos bantu, originários do Sul da África, encontramos os uafú zá kuíza, cujos funUm Itan de Ifá revela, por intermédio do Odu Irosun Meji, um sacrifício específico para garantir o nascimento de uma criança.

jul
20

CONVERSA ENTRE OXUM E OBATALÁ

 

Obatalá…

Espera, Oxum! Não posso interferir no processo de vida e morte, mas tenho, como tu mesma tens poderes para criar e consagrar símbolos que perpetuem um ser. Que o represente em qualquer situação e que possa ser renovado constantemente. Um símbolo vivo de alguém que já morreu! E este símbolo deverá participar de todos os rituais em nossa honra! E representará, com sua presença, não só a presença de seu pupilo, como também de todos aqueles que um dia receberam o sagrado OXU, que estabelece a aliança firmada entre o iniciado e seu Orixá!

Um símbolo que possa representar também a Terra, onde habitam seus corpos depois de levados por IKU! A GALINHA D’ANGOLA gritaram todos em uníssono. Oxum providenciou, imediatamente, uma galinha d’angola, que naquele tempo era inteiramente preta, e Obatalá lá soprou sobre ela pó de efun, pintalgando-a de branco, como hoje ela é. Oxum, então, modelou, com manteiga de orí da Costa, um cone ao qual acrescentou diversos componentes mágicos, e fixo-o sobre a cabeça da ave, dando a ela o status de ODOXU (aquele que possui OXU), que distingue os iniciados no Culto dos Orixás.

OBATALÁ sentenciou: A partir desse dia, serás representado, em todos os rituais, por ETU, a galinha d’angola. Qualquer ritual em que ela não estiver presente, não será por nós validado. Esta ave é, a partir de agora o símbolo dos iniciados do qual foste o precursor e, por isso nascerá provida de OXU e da pintura de efun que é feita em minha honra!

É por isso que, ainda hoje, a galinha d’angola deve estar presente em todas as cerimonias em honra aos Orixás, e uma parte dela compõe o OXU, que é colocado sobre a cabeça do neófito na hora de sua iniciação.

jul
20

AS PESSOAS DE OXUM

As(os) filhas(os) de Oxum são pessoas dóceis, porém, difíceis de lidar, devido a sua imensa sensibilidade, que lhes fazem se magoar facilmente com as coisas que lhes desagradam.
Tentam esquecer, mas não perdoam. O “ciúme” é constante em suas vidas. Não se refletindo só na vida amorosa, mas também nas amizades e em todo e qualquer tipo de relacionamento.
Os pés e a barriga são as partes do corpo que lhes trazem constantes problemas. São pessoas de sorte e costumam alcançar muitos de seus projetos. “Um fato importante” é que esta sorte passa também para as pessoas que lhe são próximas, como por exemplo: filhos de santo. Portanto, ter um Babalorixá ou uma Iyalorixá de Oxum como Zelador(a) do nosso Orixá é um fator muito positivo! Pois eles têm uma forte influência do Odu Oshê, o qual possui um grande poder de transformação.

jul
20

JUREMA SAGRADA

No dia 15 de Julho nos reunimos em nossa casa para celebrar mais uma jurema, foi uma tarde de muita energia boa e muito axé. Salve a jurema sagrada!

Por: Andréa Gisele

jul
19

DEPUTADO ABUSA DE PODER PARA ESPALHAR PRECONCEITO

O abuso de poder é mais um dos problemas que nós religiosos de matriz africana estamos enfrentando, o deputado estadual Feliciano Filho (PV), que diz ser cristão e vegetariano, propôs à Assembleia Legislativa de São Paulo o projeto de lei 992/2011, que proíbe o sacrifício de animais em práticas de rituais religiosos no estado de São Paulo. O texto prevê multa de 300 Ufesp (Unidade Fiscal do Estado de São Paulo) ou R$ 5,2 mil para cada infração, dobrando de valor em caso de reincidência. A proposta tem provocado protestos do presidente do Fórum de Sacerdotes do Estado de São Paulo e do Instituto Nacional de Defesa das Tradições de Matriz Afro Brasileira,  conselheiro do Fórum Inter-religioso da Secretaria de Estado da Justiça e do Comitê de Cultura de Paz da Assembleia Legislativa, Tata Matâmoride. “Já entramos em contato com o presidente da Assembleia para informar que esse projeto é inconstitucional.” Ele cita o artigo V da Constituição, que estabelece que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. O religioso diz que iniciativa igual não prosperou em Piracicaba, no interior de São Paulo, onde foi vetado em 2010 pelo prefeito Barjas Negri. “Já houve iniciativa igual em Piracicaba, mas não colou, porque não é competência do estado legislar sobre esse assunto”, diz.

O equivocado deputado Feliciano Filho, diz que sua ideia é polêmica e que nós (contrários a suas ideias absurdas) somos uma minoria, “Não sei de onde virá a pressão, só sei que é uma minoria. Tem de valer o interesse da sociedade. Não pode valer o interesse de classe. Não queremos cercear a liberdade de culto”, afirma.

Exigimos uma reparação urgente perante os governantes, pois estão acontecendo demasiadas invasões em nossas casas d culto africano por pessoas com esse tipo de prática e pensamento tacanho. Não podemos viver calados diante de tanta opressão e não ter a proteção do governo, tendo em vista que pagamos por igual nossos impostos e votamos como cidadãos que somos.

O deputado está convencido de que a proposta, que começa a ser analisada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), deverá ser aprovada e afirma que vai tentar ouvir as pessoas que podem sentir-se afetadas pela proposta. “A gente vai tentar porque tem muitos projetos em andamento, quando [o projeto] estiver mais perto da ordem do dia. Mas a proposta não tem vícios de iniciativa e é constitucional”, afirma. Essa é a forma que ele tem de se fazer parecer complacente e que ouve a todos, em minha opinião mero blefe, pessoas que usam de seu poder para desrespeitar as outras não merecem estar em posição de destaque na sociedade, muito menos ter um cargo que decida quem pode ou não participar das diversas religiões existentes no nosso Brasil. É muito fácil apontar o dedo para o candomblé e virar a cara para o sacrifício de animais, quando “eles” almoçam ou festejam seus churrascos, o que eles colocam nas mesas para comer?  Nas ceias de natal, o que vai como prato principal? Nas festas que tantos candidatos gostam de se mostrar por ai, o que predomina em seus pratos com os acompanhamentos?  Na verdade o mundo está cheio de hipócritas que gostam de se promover em cima da história de nossos ancestrais, até mesmo os deles, construíram o Brasil com seu suor e suas crenças, para virem gente dessa estirpe querer ser melhor do que séculos de raízes. As eleições estão aí, vamos ponderar quem colocamos para governar nossa cidade para podermos ter acesso e voz ativa quando eles estiverem no poder, agregando suas necessidades as nossas como povo brasileiro.

Por: Andréa Gisele

jul
19

O BORÍ

Da fusão da palavra Bó, que em Ioruba significa oferenda, com Ori, que quer dizer cabeça, surge o termo Bori, que literalmente traduzido significa “ Oferenda à Cabeça”. Do ponto de vista da interpretação do ritual, pode-se afirmar que o Bori é uma iniciação à religião, na realidade, a grande iniciação, sem a qual nenhum noviço pode passar pelos rituais de raspagem, ou seja, pela iniciação ao sacerdócio. Sendo assim, quem deu Bori é (Iésè órìsà).

Cada pessoa, antes de nascer escolhe o seu Ori, o seu princípio individual, a sua cabeça. Ele revela que cada ser humano é único, tendo escolhido as suas próprias potencialidades. Odú é o caminho pelo qual se chega à plena realização de Orí, portanto não se pode cobiçar as conquistas dos outros. Cada um, como ensina Orunmilá – Ifá, deve ser grande no seu próprio caminho, pois, embora se escolha o Orí antes de nascer na Terra, os caminhos vão sendo traçados ao longo da vida.

Exú, por exemplo, mostra-nos a encruzilhada, ou seja, revela que temos vários caminhos a escolher. Ponderar e escolher a trajectória mais adequada é a tarefa que cabe a cada Orí, por isso, o equilíbrio e a clareza são fundamentais na hora da decisão e é por intermédio do Bori que tudo é adquirido.

Os mais antigos souberam que Ajalá é o Orixá funfun responsável pela criação de Orí. Desta forma, ensinaram-nos que Oxalá deve ser sempre evocado na cerimónia de Bori. Iemanjá é a mãe da individualidade, e por essa razão está directamente relacionada com Orí, sendo imprescindível a sua participação no ritual.

A própria cabeça é a síntese dos caminhos entrecruzados. A individualidade e a iniciação (que são únicas e acabam, muitas vezes, configurando-se como sinónimos) começam no Orí, que ao mesmo tempo aponta para as quatro direcções.

OJUORI – A TESTA

ICOCO ORI – A NUCA

OPA OTUM – O LADO DIREITO

OPA OSSI – O LADO ESQUERDO

Desta mesma forma, a Terra também é dividida em quatro pontos: norte, sul, este e oeste; o centro é a referencia, logo, todas as pessoas se devem colocar como o centro do mundo, tendo à sua volta os quatro pontos cardeais: os caminhos a escolher e a seguir. A cabeça é uma síntese do mundo, com todas as possibilidades e contradições.
Em África, Orí é considerado um Deus, aliás, o primeiro que deve ser cultuado, mas é também, juntamente com o sopro da vida (emi) e o organismo (ese), um conceito fundamental para compreender os rituais relacionados com a vida, como o Axexê (asesé). Nota-se a importância destes elementos, sobretudo o Orí, pelos Orikis com que são invocados.

O Bori prepara a cabeça para que o Orixá se possa manifestar plenamente. Entre as oferendas que são feitas ao Orí algumas merecem menção especial.

É o caso da galinha de Angola, chamada Etun ou Konkém no Candomblé; ela é o maior símbolo de individualização e representa a própria iniciação. A Etun é adoxu (adosú), ou seja, é feita nos mistérios do Orixá. Ela já nasce com Exú, por isso se relaciona com o começo e com o fim, com a vida e a morte, por isso está no Bori e no Axexê.

O peixe representa as potencialidades, pois a imensidão do oceano é a sua casa e a liberdade o seu próprio caminho. As comidas brancas, principalmente os grãos, evocam fertilidade e fartura. Flores, que aguardam a germinação, e frutas, os produtos da flor germinada, simbolizam a fartura e a riqueza.

O pombo branco é o maior símbolo do poder criador, portanto não pode faltar. A noz cola, isto é, o obi é sempre o primeiro alimento oferecido a Ori; é a boa semente que se planta e se espera que dê bons frutos.

Todos os elementos que constituem a oferenda à cabeça exprimem desejos comuns a todas as pessoas: paz, tranquilidade, saúde, prosperidade, riqueza, boa sorte, amor, longevidade, mas cabe ao Orí de cada um eleger as prioridades e, uma vez cultuado como deve ser, proporciona-as aos seus filhos.

Nunca se esqueça: Orixá começa com Orí.

jul
19

VISITA DO SECRETÁRIO MUNICIPAL DE REPARAÇÃO (SEMUR) – SALVADOR – BAHIA

Recebemos dia 7 de Julho, o secretário municipal da Reparação da cidade de Salvador, na Bahia, o sociólogo Ailton dos Santos Ferreira. Ele veio a nossa cidade falar sobre sua experiência na secretaria e participar das rodas de diálogo que houve com ativistas do movimento negro paraibano. O secretário conheceu as dependências do Ilê Axé Omidewá e tomou café da manhã com Mãe Lúcia, trocando assim impressões sobre a religião que nos une e escutou as necessidades para os avanços da luta negra local. A secretaria de reparação foi criada resultante da luta do movimento negro da Bahia e de estímulos de outros movimentos internacionais, visa combater a xenofobia, homofobia, racismo, discriminação, violência contra a mulher e toda atitude discriminatória correlata. A Carta de Durban, assinada na Conferência de Durban organizada pela ONU(Organização das Nações Unidas) ocorrida no ano de 2001 na África do Sul pelo então presidente da república Fernando Henrique Cardoso, onde reuniram-se vários países que trataram dessas atitudes que marginalizam as pessoas. Naquela oportunidade foi assinado um protocolo de intensões onde o Brasil se comprometeu a tratar da dívida histórica que a sociedade brasileira tem para com a comunidade negra. Dentre outras coisas a carta diz: “Todos os países e sociedades que construíram riquezas usando o trabalho de pessoas escravizadas devem aos descendentes dos que foram escravizados políticas públicas afirmativas, políticas que possam corrigir as distorções históricas e políticas de reparação.” Foi de onde surgiu a secretaria de reparação. “O que antes era uma pauta dos movimentos sociais está passando gradativamente a ser também uma pauta do poder público.” Diz o secretário.

Por: Andréa Gisele

jul
14

A CRIAÇÃO DO MUNDO

Olorun, Deus supremo, criou um ser, a partir do ar (que havia no início dos tempos) e das primeiras águas. Esse ser encantado, que era todo branco e muito poderoso, foi chamado Oxalá. Logo em seguida, criou um outro orixá que possuía o mesmo poder do primeiro, dando-lhe o nome de Nanan. Os dois nasceram da vontade de Olorun de criar o universo.
Oxalá passou a representar a essência masculina de todos os seres, tornando-se o lado direito de Olorun. Nanan, por sua vez, teria a essência feminina, e representaria o lado esquerdo. Outros orixás também foram criados, formando-se um verdadeiro exército a serviço de Olorun, cada um com uma função determinada para executar os planos divinos.
Exú foi o terceiro elemento criado, para ser o elo de ligação entre todos os orixás, e deles com Olorun. Tornou-se costume prestar-lhe homenagens antes de qualquer outro, pois é ele quem leva as mensagens e carrega os ebós.
Olorun confiou à Oxalá a missão de criar a Terra, investindo-o de toda a sabedoria e poderes necessários para o sucesso dessa importante tarefa. Deu a ele uma cabaça contendo todo axé que seria utilizado.
Oxalá, orgulhoso por ter recebido tamanha honraria, achou desnecessário fazer as oferendas a Exú.
Exú, vendo que Oxalá partira sem lhe fazer as oferendas, previu que a missão não seria cumprida, pois, mesmo com a cabaça e toda a força do mundo, sem a sua ajuda não conseguiria chegar ao local indicado por Olorun.
A caminhada era longa e difícil, e Oxalá começou a sentir sede, mas, devido à importância de sua missão, não podia se dar ao luxo de parar para beber água. Não aceitou nada do que lhe foi oferecido, nem mesmo quando passou perto de um rio interrompeu a sua jornada. Mais à frente, encontrou uma aldeia, onde lhe ofereceram leite de cabra para saciar sua sede, que também foi recusado.
Todos os caminhos pareciam iguais e, depois de andar por muito tempo, sentiu-se perdido. De repente, ele avistou uma palmeira muito frondosa, logo à sua frente, Oxalá, já delirando de tanta sede, atingiu o tronco da palmeira com seu cajado, sorvendo todo o líquido que saía de suas entranhas (era vinho de palma). Embriagado pela bebida, desmaiou ali mesmo, ficando desacordado por muito tempo.
Exú avisou Nanan que Oxalá não havia feito as oferendas propiciatórias, por isso não terminaria sua tarefa. Ela, agindo por contra própria, resolveu consultar um babalawô para realizar devidamente as oferendas. O sacerdote enumerou uma série de coisas que ela deveria oferecer, entre elas um camaleão, uma pomba, uma galinha com cinco dedos e uma corrente com nove elos. Exú aceitou tudo, mas só ficou com a corrente, devolvendo o restante à Nanan, pois ela iria precisar mais tarde. Outros sacrifícios foram realizados, até que Olorun a chamou para procurar Oxalá, que havia esquecido o saco da criação com o qual criaria a Terra. Nanan, após terminar suas oferendas, foi atrás de Oxalá, encontrando-o desacordado próximo ao local onde deveria chegar.
Ao saber que Oxalá havia falhado em sua missão, Olorun ordenou que a própria Nanan prosseguisse naquela tarefa com a ajuda de todos os orixás. E assim foi feito. Nanan pegou o saco da criação e o entregou à pomba, para que voasse em círculo. A galinha com cinco dedos foi solta, para espalhar aquela imensa quantidade de terra, e, finalmente, o camaleão arrastou-se vagarosamente, para compactá-la e torná-la firme.
Quando Oxalá acordou, viu que a Terra já havia sido criada, e não o fora por ele. Desesperado, correu até Olorun, que o advertiu duramente por não ter reverenciado Exú antes de partir, julgando-se superior a ele. Oxalá, arrependido, implorou perdão. Olorun, sempre magnânimo, deu-lhe uma nova e importantíssima tarefa, que seria a de criar todos os seres que habitariam a Terra. Desta vez ele não poderia falhar!
Usando a mesma lama que criou a Terra, Oxalá modelou todos os seres, e, insuflando-lhes seu hálito sagrado, deu-lhes a vida.
Desta forma, Nanan e Oxalá desempenharam tarefas igualmente importantes, juntamente com a valiosa ajuda de todos os orixás, que possibilitaram o surgimento deste novo e maravilhoso mundo em que vivemos.

jul
14

OXUM NA ORGANIZAÇÃO DO MUNDO…

Era uma vez, no princípio do mundo, Olodumaré mandou todos os orixás para organizarem a terra. Os homens faziam reuniões e mais reuniões. Somente os homens, as mulheres não eram convidadas. Aliás as mulheres foram proibidas de participar da organização do mundo.Deste modo nos dias e horas marcadas,os homens deixavam em casa as suas mulheres e saiam para tomar as providências indicada por Olodumaré.

As mulheres não gostaram de ficar de lado. Contrariadas foram conversar com Oxum. Oxum era conhecida como uma Iyalodé.Iyalodé é um título da pessoa mais importante entre as mulheres do lugar.

Na verdade parece que os homens tinham esquecido do poder de Oxum sobre a água doce.E sem a água doce,com certeza,a vida na terra seria impossível.

Oxum já estava aborrecida com esta desconsideração dos homens. Afinal ela não poderia de forma alguma ficar longe das deliberações para o crescimento das coisas da terra. Ela sabia de tudo o que estava acontecendo. Era preciso compreender que todos são importantes para construção do mundo.

Procurada por suas companheiras, conversaram durante muito tempo e por fim a Iyalodé comunicou:- De hoje em diante, vamos mostrar o nosso protesto para os homens. Vamos chamar atenção,porque somos todos responsáveis pela construção do mundo.Enquanto não formos consideradas,vamos parar o mundo!

-Parar o mundo?O que significa isto?Perguntaram as mulheres curiosas.

-De hoje em diante, falou Oxum, até que os homens venham conversar conosco, estamos todas impedidas de parir. Também as árvores não vão mais dar frutos, nem as plantas vão florescer, nem crescer. Isto foi dito e isto aconteceu.

Aquela foi uma reunião muito forte. A decisão foi acatada por todas as mulheres. E os resultados foram imediatos. Os planos que os homens faziam, começaram a se perder sem nenhum efeito.

Desesperados, os homens se dirigiram a Olodumaré explicaram como as coisas iam mal sobre a terra. As decisões tomadas nas assembléias não davam certo de forma nenhum.

Olodumaré ficou surpreso com as más notícias. Depois de meditar por alguns instantes perguntou:

-Vocês estão fazendo tudo como eu mandei?Oxum está participando destas reuniões?Os homens responderam?-Veja senhor, estamos fazendo tudo “direitinho” como o senhor mandou. Agora, este negócio de mulher participando de nossas reuniões… Isto ai,a gente não fez assim não.Coisa de homem,tem que ser separado de coisa de mulher.

Olodumaré falou forte:

-Não é possível. Oxum é o orixá da fecundidade. É quem faz desenvolver tudo que é criado. Sem Oxum o que é criado não tem como progredir. Por exemplo, vocês já viram alguma coisa plantada crescer sem água doce?

Os homens voltaram correndo para a terra e cuidara logo de corrigir aquela grande falha. Quando chegaram à casa de Oxum, ela já esperava na porta, fazendo jeito de quem não sabia o que estava acontecendo. Aí os homens foram chegando e dizendo:

-Agô nilê!(Com licença).

-Omo nilê ni ka a gô (filho da casa não pede licença).

Deste jeito ela os convidou a entrar em sua casa. Conversaram muito para convencer a Oxum. Eles pediam que ela participasse imediatamente dos seus trabalhos de organização de terra. Depois que ela se fez bem de rogada,aceitou o convite.

Não tardou e tudo mudou como por encanto. Oxum derramou-se em água pelo mundo. A terra molhada reviveu.As mulheres voltaram a parir.Tudo floresceu e os planos dos homens conseguiram felizes resultados.Daí por diante,cada vez que terminavam uma assembléia,homens e mulheres cantavam e dançavam com muita alegria,comemorando o reencontro e suas possíveis realizações…..

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