maio
01

Itàn: O nascimento de Oxaguian


Nasceu dentro de uma concha de caramujo. Não tinha mãe. E quando nasceu, não tinha cabeça, por isso perambulava pelo mundo, sem sentido nem rumo.

Um dia encontrou Ori numa estrada e este lhe deu uma cabeça feita de inhame pilado. Apesar de feliz com sua nova cabeça branca, ela esquentava muito e quando esquentava Oxaguian criava mais conflitos. E sofria muito.

Um dia encontrou a morte (Iku), que lhe ofereceu uma cabeça fria. Apesar do medo que sentia, o calor era insuportavel e ele acabou aceitando a cabeça preta que a morte lhe deu. Mas essa cabeça era dolorida e fria demais. Oxaguian ficou triste, porque a morte com sua frieza estava o tempo todo com o Orixá.

Então Ogum apareceu e deu sua espada para Oxaguian, que espantou Iku. Ogum também tentou arrancar a cabeça preta de cima da branca, mas tanto apertou que as duas se fundiram e Oxaguian ficou com a cabeça azul, agora equilibrada e sem problemas.

A partir deste dia ele e Ogum andam juntos transformando o mundo. Oxaguian depositando o conflito de ideias e valores que mudam o mundo e Ogum fornecendo os meios para a transformação, seja a tecnologia ou a guerra.

Epá Babá!

maio
01

Itàn: Oxum Apará


Em uma época onde os deuses viviam na terra, na região da Nigéria existiu duas jovens irmãs: Oxum e Iansã.

Oxum era deusa do ouro e da prata e tinha poderes sobre o ocultismo, Iansã por sua vez era deusa dos raios, tendo assim poderes sobre eles. Oxum carregava consigo o espelho que mostrava toda verdade oculta. Um belo dia Iansã muito curiosa, pegou o espelho e olhou, viu que era mais bonita que Oxum. Toda aldeia ficou sabendo disso e Oxum ficou muito brava.
Resolveu dar uma lição em sua irmã, colocou em seu quarto outro espelho, esse mostrava o lado ruim das coisas. Iansã percebendo a troca foi novamente olhar, ficou chocada com o que viu, em vez de ver sua imagem viu um monstro horrível. Entrou numa tristeza profunda e acabou morrendo.

Os deuses mais velhos descobriram a vingança de Oxum, decidiram castigá-la.

Oxum carregaria Iansã em seu corpo eternamente, seis meses seria Oxum com todas suas características e os outros seis meses seria Iansã. Oxum Apará tem em uma das mãos o espelho e na outra a espada que representa Iansã, dizem que ela é uma deusa guerreira e anda ao lado de Ogum, o deus do ferro e da estrada.

abr
23

Itàn: Ogun se torna Orisà

Ogum lutava sem cessar contra os reinos vizinhos. Ele trazia sempre um rico espólio em suas expedições, além de numerosos escravos. Todos estes bens conquistados, ele entregava a Odúduá, seu pai, rei de Ifé.

Ogum continuou suas guerras. Durante uma delas, ele tomou Irê e matou o rei, Onirê e o substituiu pelo próprio filho, conservando para si o título de Rei. Ele é saudado como Ogum Onirê! – “Ògún Rei de Irê!”

Entretanto, ele foi autorizado a usar apenas uma pequena coroa, “akorô”. Daí ser chamado, também, de Ògún Alakorô – “ogum dono da pequena coroa”.

Após instalar seu filho no trono de Irê, Ogum voltou a guerrear por muitos anos. Quando voltou a Irê, após longa ausência, ele não reconheceu o lugar. Por infelicidade, no dia de sua chegada, celebrava-se uma cerimônia, na qual todo mundo devia guardar silêncio completo. Ogum tinha fome e sede. Ele viu as jarras de vinho de palma, mas não sabia que elas estavam vazias. O silêncio geral pareceu-lhe sinal de desprezo. Ogum, cuja paciência é curta, encolerizou-se. Quebrou as jarras com golpes de espada e cortou a cabeça das pessoas. A cerimônia tendo acabado, apareceu, finalmente, o filho de Ogum e ofereceu-lhe seus pratos prediletos: caracóis e feijão, regados com dendê, tudo acompanhado de muito vinho de palma. Ogum, arrependido e calmo, lamentou seus atos de violência, e disse que já vivera bastante, que viera agora o tempo de repousar. Ele baixou, então, sua espada e desapareceu sob a terra. Ogum tornara-se um Orixá.

Ogunhê, Patakorì.

abr
13

Ìyá Olóòkun Seniade – primeira esposa de Oduduwa

Ìyá Olóòkun Seniade é a primeira esposa de Oduduwa. Com ela teve dois filhos Ogún e Isedéle. Ìyá Olóòkun Seniade é conhecida por ser mãe e dona do mar.[3]Senhora da riqueza, prosperidade assim como o próprio mar. Omonide também foi esposa de Oduduwa. Com ela Oduduwa teve vários filhos e um dos destaques são Alákétu e Aláke que se tornaram oba.[4] Por último, mas não menos importante temos Lakanje. Esposa humana de Oduduwa e que deu a luz a diversos filhos, mas o principal foi Orànmìyán. Lakanje era uma mulher belíssima que foi aprisionada por Ogún após uma rebelião de uma cidade vizinha a Ilê-Ifé. A obrigação de Ogum era entregar Lakanje ao seu pai Oduduwa, porém não resistiu aos encantos e se relacionou com Lakanje. Antes de entregá-la ao seu pai Lakanje já estava grávida. Oduduwa também se impressionou com tamanha beleza de Lakanje e casou com ela. Quando o filho de Lakanje, chamado Orànmìyán nasceu, tinha duas cores – metade albino, metade negro. Metade albino, porque Oduduwa é albino e negro por causa de Ogum. Através da cor de Orànmìyán foi descoberta a traição de Ogum, o que deixou Oduduwa furioso, mas a discussão maior era para saber de quem Orànmìyán era mais filho.
Devido o processo de diáspora o culto a Oduduwa se perdeu no Brasil, mas a sociedade iorubana ainda o cultua fortemente. Um exemplo de tamanho respeito que há com Oduduwa é que quando uma criança nasce albina é considerada sagrada. Assim como outros orixás de origem iorubana o culto a Oduduwa se perdeu no Brasil em meio o processo de diáspora africana.

[1] “[…] o orikí é uma saudação nominal. É um nome que encerra uma louvação, um elogio que se refere a uma qualidade sempre excelente da pessoa. Os orikí são também criados para Orixás, as cidades, plantas e animais domésticos”.
[2] Jogo divinatório
[3] No Brasil devido o processo de diáspora Ìyá Olóòkun deixou de ser cultuada como mãe do mar. Yemanjá é cultuada no Brasil como rainha do mar, mas entre os iorubás ela é a divindade do rio.
[4] A palavra Oba significa rei em geral. O que distingui estes reis são seus subtítulos ou o verdadeiro “título” que os individualizam. No caso, o da cidade de Kétu é o Alákétu e assim o são por todos os grupos iorubás como o de Òyó que é chamado de Aláààfin, ou o de Ifé que é Óòní. Para mais detalhes: “Oba Omo-Odùduwà”, em Barreti, set.2003, Internet. Algo importante de se destacar é que a figura do Oba é ainda muito importante para a sociedade iorubana e ainda mantém destaque social. Os Oba são representados como descendentes diretos dos Orixás ou mesmo definidos como o próprio orixá em vida.

FONTE: Cultura e Filosofia Africana

abr
11

João Pessoa ganha Ponto de Leitura Afro

Ilê Axé Omidewá lança Ponto de Leitura Ancestralidade Africana no Brasil, visando preservar e dar maior visibilidade aos saberes históricos e ao patrimônio cultural que subsiste na memória dos povos e comunidades tradicionais.

O Centro de Cultura Afro-Brasileiro Ilê Axé Omidewá, em João Pessoa, Paraíba, ganhou um Ponto de Leitura do programa Pontos de Leitura Ancestralidade Africana no Brasil. A ação é fruto de parceria entre a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e a Fundação Biblioteca Nacional do Ministério da Cultura (FBN/MinC). Além deste, outros nove Pontos estão em funcionamento em comunidades tradicionais, quilombos e terreiros de diferentes cidades brasileiras.

Segundo a secretária de Políticas para as Comunidades Tradicionais, Silvany Euclênio, a instalação de Pontos de Leitura Afros nessas localidades colabora para a preservação e para dar maior visibilidade aos saberes presentes na história dos povos tradicionais. “Contribui para a salvaguarda do patrimônio cultural que subsiste na memória das comunidades, nas narrativas transmitidas de geração a geração e que, na maior parte das vezes, são ignoradas pelos registros históricos”, declarou.
O programa é uma ação transversal dentro do MinC, que envolve a FBN Programa Livro, Leitura e Literatura, o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), e a Secretaria de Cidadania Cultural.  A iniciativa conta com um acervo suplementar composto por mais de 600 livros relacionados à cultura de matriz africana, além do Kit tradicional dos Pontos de Cultura, que contêm 650 livros, mobiliário para sala de leitura, um computador e impressora.

Cooperação
O programa Pontos de Leitura Ancestralidade Africana no Brasil é parte do acordo de cooperação firmado entre a FBN/MinC e a SEPPIR no âmbito da campanha Igualdade Racial é pra Valer. A Secretaria de Cidadania Cultural do MinC apoia a iniciativa com R$ 300 mil, aplicados na produção e registro da memória das comunidades contempladas. A FBN visita às localidades e realiza uma pesquisa que reunirá informações a serem incorporadas ao acervo dos Pontos de Leitura. Já a SEPPIR participa com financiamento da compra do acervo temático, no valor de R$ 200 mil.

Os Pontos estão localizados em comunidades tradicionais, quilombos e terreiros. Além da unidade recém-instalada em João Pessoa, existem mais 9 pontos funcionando na Comunidade Egbe Ilê Ya Omi Dayol Ase Obalayo, em São Gonçalo (RJ); Centro Memorial de Matriz Africana 13 de Agosto, em Porto Alegre (RS); Comunidade Quilombola Mesquita, na Cidade Ocidental (GO); Quilombo do Curiaú (AP); Associação Santuário Sagrado de Pai João de Aruanda, em Terezina (PI); Comunidade Aceyoni, em Belém (PA); Quilombo do Macucu, em Minas Novas (MG); Comunidade Quilombola Serra do Apom, em Castro (PR); e Comunidade Ilê Ede Dudu – Centro Cultural Orunmila, em Ribeirão Preto (SP).

No dia da inauguração do espaço (31 de março último), na Paraíba, a Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde – Núcleo Paraíba, lançou o vídeo “O Cuidar nos Terreiros”, cujas cenas mostram práticas tradicionais dos terreiros e sua importância como espaços de preservação do acervo cultural visualizado nas línguas, cânticos, lendas, na utilização de folhas, vestimentas e na relação com a natureza.

João Pessoa ganha Ponto de Leitura Afro

Ponto de Leitura paraibano é um entre nove em funcionamento no país

FONTE: SEPPIR

Mesa composta por: Eudelucy Leal (representante da RENAFRO/PB); José Roberto (representando a Secretaria da Mulher do Estado da PB); Luana Arantes (Secretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais – SECOMT; Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR); Iyá Lúcia de Oxum (Ilê Axé Omidewá); Mariah Marques (representando o Secretário da Cultura do Estado da PB); Ogan Wellington (representante do Ilê Axé Opô Afonjá); Socorro Pimentel.

abr
10

A importância da procriação dentro de um Asé

Verificamos, ainda nos dias de hoje, um certo desdém e subjugo dos líderes sacerdotais para com os seus filhos espirituais, ou até mesmo com os dos outros, os quais são denominados ou classificados, por Ìyawó. O fato é que alguns pontos precisam ser esclarecidos e refletidos para que haja, diante de entendimentos, uma valorização da cultura e religiosidade de matrizes africanas e afro-brasileiras, na busca da sua preservação e engrandecimento, não só, quantitativamente, como também, e principalmente, qualitativamente. Comecemos por entender o que vem a ser Òrìsà. Um ancestral divinizado que nasceu, viveu e morreu como qualquer um de nós. Porém, em vida, mantinha o controle sobre certos elementos da natureza, através da força vital do criador.  “O poder do ancestral-orixá, após a sua morte, é manifestado momentaneamente em um de seus descendentes através do fenômeno da possessão”, ou melhor, da incorporação.  “Esse ser humano, escolhido pelo Orixá, um de seus descendentes é chamado seu elégùn, aquele que tem o privilégio de ser ‘montado’, gùn, por ele. Tornando-se o veículo que permite ao Òrìsà voltar a terra para saudar e receber as provas de respeito de seus descendentes que o evocaram”. Os elégùn geralmente são chamados ìyawóòrìsà, significando noiva, esposa ou mulher do Orixá, seja ele homem ou mulher, evocando a idéia de sujeição e de dependência, como antigamente as mulheres eram aos homens. Todavia, esta sujeição a que nos referimos é ao ancestral-orixá. Assim sendo, de acordo com a tradição Yorubá, o que hoje chamamos de Orixá (Ogúm, Òxossì, Obalúwayé, Xàngó, Oya, etc.) são na realidade ancestrais que foram divinizados pelos seus descendentes e pelos seus seguidores, seja na qualidade de Onílè/Senhor da Terra (senhor de muitos filhos e de vasto território) ou Ìdílé/Importante personalidade da família (aquele que apesar de não ter filhos ou terras era considerado pelo seu povo como benfeitor). No Brasil este processo de povoamento da casa de culto se dá de forma diferente, quer seja, através da iniciação de pessoas de diferentes segmentos e níveis sociais, diante de diversos fatores de ambientação social, o que nos leva a repensá-los. Em vários momentos das nossas orações e cânticos, mesmo que inconscientemente, suplicamos por fertilidade e filhos, a fim de que possamos ser considerados por Elédùmarè como um Onílè e, desta forma, alcançarmos a eternidade, sendo divinizado pelos nossos descendentes. Daí a importância da procriação iniciática.
No terceiro milênio, precisamos entender que os tempos mudaram e que qualquer ser humano, a princípio, precisa ser tratado com respeito. Um filho gozando de satisfação pessoal (àláfíà), propiciará o engrandecimento do asé e, certamente, irá divinizar-nos no futuro. Qualquer religião surge a partir da cultura de um povo, por isto precisamos ter adeptos esclarecidos. É tempo de por que? e pra que?, pois só desta forma alguém pode defender e difundir aquilo em que acredita. Não se pode mais aceitar, nos dias de hoje, as desculpas de que “ainda não está na sua hora de saber”. “Você ainda é um Ìyawó”. Um outro fator de suma importância, é o entendimento de que o àse só se eterniza “ou morre” a partir do falecimento do seu fundador. Estão aí os exemplos de tantas casas que já nasceram e morreram sem que sequer lembremos o nome do sacerdote.
Enfim, o respeito ao ser humano e a preservação das tradições culturais afro-brasileiras é o que se discute nos dias de hoje.

abr
02

Ìyamí Òsorongá – A Temível força da Feminilidade

“Quando se pronuncia o nome de Yiá Mi Oxorongá, quem estiver sentado deve-se levantar, quem estiver de pé fará uma reverência, pois se trata de temível Orixá, a quem se deve apreço e acatamento”.

Iyà Mi Oxorongá é a grande representação do Poder Feminino no Awó (Culto) Africano, e, por herança do Candomblé afro-brasileiro. Encontra o seu maior fundamento na capacidade de gestação da Vida que toda a mulher possui. Por isso, toda a mulher é uma Iya Mi latente, esperando apenas o momento certo para nascer. Esta divindade na verdade representa a colectividade ancestral feminina, pois é a síntese da Alma de todas as mulheres juntas. Iya mi Agba, outro nome pelas quais elas podem ser referenciadas, significa Minhas Mães Ancestrais. Mais uma vez ratificando que esta poderosa divindade são as nossas queridas mães, vivas pela eternidade. Algumas vezes é comum ouvirmos se referir a elas como “Minhas Mães Queridas”, que é apenas um artifício para aplacar-lhes a ira, pois o Poder Feminino destas Guardiãs do Segredo da Vida é Terrível!
Mas por quê? Porque às mulheres cabe o poder de gerar, o poder que dá a Vida. Portanto cabe às mulheres decidir se o rebento vai nascer ou não. E mesmo quando nasce, cabe também, somente a elas, decidir se a criança vive ou não. Assim as Iya Mi (Minhas Mães) são as Senhoras da Vida, mas também, as Senhoras da Morte, que é o corolário da Vida. Todo o ser vivo deve sua Vida à Iyá Mi, pois deve sua Vida à sua Mãe. O Poder pertence às mulheres, afinal: “A mão que balança o berço, é a mão que governa o Mundo”. Não é por acaso que as Iya Mi são tabu na Religião, assim como a Mulher é tabu em todas as sociedades. Porque o poder pertence a elas.

mar
27

Matriarcalismo

MATRIARCALISMO: Importância e papel da presença da MULHER líder em um Terreiro de Candomblé

Para começar meu discurso faço uma indagação: Quem de vocês conhece alguma religião, em especial no Brasil, onde a mulher tenha maior destaque? Após anos de estudos, pesquisa vivências como Ialorixá, cheguei a conclusão que só a nossa: o Candomblé. Ela nos dá o direito de ocuparmos cargos do mais alto nível eclesiástico dentro da diáspora afro-descendente, o que para outras religiões é impossível, pelo menos até o momento. Como já falei em outro discurso, espero que isto comece a mudar nas outras religiões, pois vejo como uma grande discriminação, preconceito e injustiça a mulher ser relegada a segundo e até último plano, e não ter o direito de ocupar cargos de destaques nestas religiões. Se formos a uma igreja católica, por exemplo, com certeza notaremos um número bem maior de mulheres do que homens. Este fenômeno acontece em todas as religiões, pois pelo que observo a mulher tem uma natureza mais mística. E por que não podem chegar a ocupar níveis elevados na escala sacerdotal de suas religiões? É sabido que em algumas religiões muçulmanas as mulheres nem sequer podem ocupar o mesmo espaço de oração que os homens. Que Deus é este que discrimina seus filhos? Este com certeza não é o Deus que reverencio no Candomblé, o qual chamamos de Olodumare, de acordo com o idioma Iorubá, que em português é Deus, em inglês é God, etc, etc. Vejo estes fatos com muita tristeza, fico triste por estas mulheres que enchem as igrejas, servindo de escada para seus pastores e superiores e não se dão conta da discriminação que lhes atingem e, portanto, não reivindicam qualquer direito.  Mas ao mesmo tempo me alegro quando vejo na maioria dos terreiros mulheres sacerdotisas passando para seus filhos de santo as normas e preceitos dos Orixás, e sendo acatadas pelos mesmos com amor e respeito, pois sabem que a Ialorixá é orientada pelos ancestrais divinizados e portadoras de muito Axé. Ao contrário do que acontece em outras religiões, no Candomblé a mulher é a grande sacerdotisa. Desempenham papel de grande importância em seu reduto e até na comunidade onde situa-se o terreiro. Algumas pessoas que não têm família ou que por algum motivo estão afastadas das mesmas se completam no Candomblé, onde acham apoio social. Assim, encontram na Mãe de Santo e todos da comunidade a sua família. No terreiro desde antigamente a auto-estima da mulher de Candomblé é e será sempre valorizada. Vemos por exemplo uma lavadeira ser chamada de senhora ou uma empregada doméstica ter aos seus pés toda a reverência da comunidade. Em qual religião se vê isto? Nossa religião dá ascensão social às mulheres, isto é fato. Em especial as Ialorixás, que muitas vezes são discriminadas pela família e pela sociedade e por causa da religião passam a ser mais respeitadas. As adeptas do Candomblé são acolhidas pela comunidade que as confortam, que as amparam. Para muitas o Candomblé chega a ser uma válvula de escape, onde elas podem expressar suas dores e sentimentos, pois sabem que a família de Santo irá acolhê-la, ampará-la, enfim, ajudá-la. O que mais me comove no Candomblé é a Solidariedade, o que falta em muitas religiões. No Candomblé a mulher vive o papel de mãe, mesmo aquela que não teve filhos biológicos, experimentam os sentimentos de dar proteção, educar, criar, isto tudo quando criam seus filhos de Santo. Pelo próprio dom materno ela se envolve mais. Conheço Ialorixás que não tiveram filhos biológicos e ao contrário do que muitos pensam são ótimas mães, no que diz respeito ao amor, a atenção que dão aos seus filhos espirituais. São verdadeiras mães para sua comunidade, acolhem a todos e promovem a união, a interação de forma que não tenha conflito ao seu redor. Não quero aqui deixar de reconhecer a figura do homem enquanto Babalorixá, pois conotaria discriminatório. Eles também reinam soberanos em suas comunidades, mas também não podemos esquecer que muitos saíram de Ilês onde o matriarcado é mantido e sempre será. Mesmo nos terreiros que são dirigidos por Babalorixás a figura feminina não deixa de ter seu papel de relevância. Como ser um líder de uma comunidade de terreiro sem a presença da Agibonã, a Iabassê, a Iamorô, a Ajimudá, a Iakekérê, as Ekedes, etc. Enfim, no Candomblé existem cargos ou até mesmo postos que só as mulheres podem ocupar. Portanto, vejo que por ter mais mulheres no poder, o Candomblé tem um discurso mais feminista que as demais religiões. Não quero de forma alguma obscurecer a importância do sexo masculino dentro da comunidade de terreiro, pois para nós todos são de suma importância, em especial para os atos ritualísticos, tais como Ogans, Alabês, Axoguns, seus Otuns e Osis, etc, etc. Mas por encontrarmos maior número de mulheres no terreiro, conseqüentemente mais cargos de relevância ocupados por elas. Sendo as mulheres herdeiras de uma tradição de poder feminino, as Mães de Santo reinam absolutas nos mais de 20 mil terreiros espalhados pelo Brasil. Não poderia deixar de lembrar também a disposição da mulher trabalhar pelo Candomblé e Orixás. Muitas delas têm filhos, marido, família numerosa, trabalham fora e ainda cuidam dos afazeres e responsabilidades que seu cargo dentro do Ilê lhe requer. Elas são verdadeiras abelhas em sua comunidade, trabalham incansavelmente para o bem estar de todos, em especial para os Orixás. A todas elas, de Abians a Ialorixás, minha benção e meu respeito. Que Olodumare, nossos ancestrais, nos deem força e fé para mantermos nossa tradição por muitos séculos.

Apresentação da Iyá Lúcia de Oxum (Omidewá), no V Seminário Nacional Candomblé Saúde e Axé, 22 a 24 de abril de 2005, Salvador/Bahia.

mar
15

Lançamentos: Ponto de Leitura e vídeo “O Cuidar nos Terreiros”

É com orgulho que o Ilê Axé Omidewá lança o Ponto de Leitura “Ancestralidade Africana no Brasil”, projeto da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), em parceria com a Secretária da Cidadania e Diversidade Cultural do MinC (SCDC/MinC) e a Secretária de Políticas de Promoção de Igualdade Racial (SEPPIR).

Lançará também, através da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde/Núcleo PB, o vídeo “O Cuidar nos Terreiros”.

ASÈ!!!

Clique no Folder abaixo para maximizar:

mar
15

Festa de Oxum – 32 anos

Convidamos a tod@s os filhos, irmãos, familiares, amigos e simpatizantes para a Festa de Oxum, comemoração dos seus 32 anos. Haverá confirmação de Ogan e Ekede. ASÈ!!!

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